Pe. Cauly
A verdade, diz santo Tomás, é uma equação entre a inteligência e o seu objeto. Uma coisa nos aparece verdadeira quando a nossa razão a percebe inteira e a compreende; e, neste caso, a palavra que serve para exprimir esta verdade é nitidamente clara e compreensível. Mas é de toda a evidência que a inteligência divina encara objetos de uma grandeza muito maior; contudo, percebe-os em toda a sua extensão, e a palavra de que Deus se servir para exprimir a verdade por ele notada, será necessariamente em relação com a verdade mesma. Segue-se que a palavra de Deus, revelada e comunicada aos homens, fica em perfeita equação com o pensamento divino ou com a verdade; e como o pensamento de Deus é infinito assim como a sua natureza, a sua palavra nos comunicará verdades que ultrapassam e sempre ultrapassarão o círculo finito e limitado da nossa inteligência. Ora tal é a razão do mistério: inteligível e compreensível para Deus, é, para o homem, inteligível só nos termos, porém, incompreensível* na verdade que enuncia, porque tal verdade está acima do homem, superior à sua razão, mas nem por isso inteligível ou contraditória. Eis porque certas verdades, evidentes para Deus, ficam em si mesmas absolutamente incompreensíveis para o homem, e nós as chamamos de mistérios.
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*O autor dá o sentido em que emprega o termo: "O incompreensível é o que não é completamente penetrado ou explicado para que desapareçam todas as trevas da nossa inteligência e para haja equação perfeita entre o objeto e o pensamento. O incompreendido resulta de uma falta de alcance, de uma fraqueza relativa da inteligência, a respeito do objeto que lhe fica submetido".
Pe. Cauly, Curso de Instrução Religiosa, Tomo IV.
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