Sobre a recente declaração e ventilação de uma entrevista do Santo Padre tratando sobre o uso dos preservativos...
De um lado, a coisa é muito grave para ficar sem comentar. E de outro, só se é possível, à luz da Fé, uma única posição, muito clara e unívoca: o que ali se lê é, no mínimo, lamentável.
Se é lamentável pelo conteúdo, se torna então absurdo levando-se em conta o atual estado do mundo em que vivemos. Custa-me muito fazer qualquer oposição que seja ao Santo Padre, e ainda agora o faço com os olhos baixos e fazendo, vez e outra, semi-vênias quase automáticas, mas não dá para entender o que ali vai escrito.
O uso da camisinha é um mal em si e não pode, em hipótese nenhuma, ser legitimado em função de um suposto outro bem. E não somente não resolve o problema moral, mas antes o agrava, sendo claramente um incentivo à promiscuidade.
Espanta-me, porém, que Bento XVI, sendo tão sábio quanto é, tenha caído em algo tão básico em termos de moral. Teria sido a pressão dos seus opositores? Não creio... Seria, então, a real posição do Santo Padre? Me custa crer. Talvez tenha sido um equívoco juntamente com um exemplo infeliz.
E por dizermos isto, muitos desinformados nos apontarão o dedo e, convictos de nos terem descoberto a motivação profunda de nossas investidas, dirão que nossa religião se baseia na defesa de nossas próprias opiniões, uma vez que acusamos, agora, até mesmo Sua Santidade.
Observemos, primeiro, que Bento XVI, nesta entrevista, não fala como Sumo Pontífice da Santa Igreja, mas como teólogo pessoal, como Joseph Ratzinger, o que não compromete, de forma nenhuma, o ensino da Igreja nem a sua infalibilidade enquanto pastor.
Observemos, primeiro, que Bento XVI, nesta entrevista, não fala como Sumo Pontífice da Santa Igreja, mas como teólogo pessoal, como Joseph Ratzinger, o que não compromete, de forma nenhuma, o ensino da Igreja nem a sua infalibilidade enquanto pastor.
E a coisa é justamente o oposto: não sustentamos opiniões próprias a respeito destes assuntos tão sérios. O que fazemos é segurar firmemente no ensino de sempre da Santa Igreja Católica e à sua moral infalível. Bento XVI errou, agora, justamente por cultivar uma opinião própria ao invés de ser reto intérprete e canal da doutrina perene de Cristo.
Não se pode dizer que o tema, observado no seu aspecto prático, seja questão fácil. Mas isto não se resolverá mudando-se o conceito de bem nem fazendo-se do mal um instrumento.
Fico muito tímido para falar sobre isto, sobretudo porque estamos a tratar do que disse Sua Santidade, a quem amo e respeito profundamente. Depois, porque sou mesmo muito pequeno para tratar da questão. Outros grandes têm comentado a respeito embora, como é de se esperar, alguns discursos apaixonados tiram algo da objetividade dos textos.
De outro lado, não faltam também tentativas de defesa da referida entrevista, como se fosse possível uma hermenêutica em consonância com o ensino tradicional... Mas o resultado da empresa fica aquém da intenção.
Fico, sinceramente, preocupado e sei que esta entrevista será instrumentalizada ao extremo e lá se vêm outros tantos mal-entendidos que teremos de, pacientemente, desfazer.
Rezemos pelo Santo Padre Bento XVI, Doce Sombra de Cristo na terra...
Que a Virgem Santíssima nos conduza.
Me foi muito difícil ter de postar algo como uma crítica ao pronunciamento do Santo Padre. Pensei bastante sobre isso ontem à noite. O tema realmente não é fácil. Mas creio que o argumento é o seguinte:
ResponderExcluirSuponhamos que, de um lado, há um extremo de promiscuidade: a prostituição. E de outro, temos a vida sexual tal como deve ser vivida, isto é, dentro do matrimônio e com o seu duplo caráter: unitivo e procriativo.
Entre um e outro, obviamente, não se chega aos pulos. Há os níveis de gradação. Creio que o Santo Padre tinha isto em mente quando falou do “início de uma conscientização”.
A questão que se coloca é: entre um ato pecaminoso e um ato virtuoso não há meio termo, de modo que um ato pecaminoso, enquanto não deixa de ser tal, não pode servir de meio para um fim bom.
Pelo que se expressou Sua Santidade como teólogo pessoal, ele considera que o fato de usar um preservativo em casos extremos, pode se configurar como uma preocupação com o outro, o que poderia vir, posteriormente, a desembocar numa atitude mais responsável.
Entre bem e mal, porém, não há meio termo. Entre eles não há consórcio, como afirmou o Apóstolo Paulo. De modo que o primeiro passo para uma dignificação do ser humano implicaria o abandono da prostituição e, portanto, o descarte, por inutilidade, do infeliz preservativo.
Porém, vejamos o seguinte.
Entre o pecado totalmente irrefletido e esta possível preocupação com o outro, há, sim, uma gradação, de modo que esta última condição se configura menos ruim que a primeira. Não seria isto como uma incidência de qualquer luz na situação pecaminosa, a ponto de ser possível, a partir daí, que a situação mude? O argumento do Santo Padre aparentemente tem lógica, porém isto pode ser um sofisma, ainda que não intencional.
Da aceitação do preservativo, mesmo em casos mais complicados, já que é, claramente, um instrumento de promiscuidade, não pode resultar qualquer bem. Daí o problema! Desta forma, o primeiro passo seria, mesmo, abandonar a situação de pecado ao invés de executá-la de uma forma supostamente mais refletida.
De outro lado, há casos de pessoas que, no “fundo do poço“, começam a sair de lá, inicialmente, por discretas aproximações com o bem. Naqueles casos, vai se tornando crescente o sentimento de inadequação com a lavagem do erro. Ora, à vista do primeiro movimento interior desta inadequação, não é provável que o sujeito já abandone o que fazia. Talvez o filho pródigo, antes de voltar à casa paterna, embora já pensando em fazê-lo, continuou a experimentar, por alguns dias, daquela lavagem..
O que quero dizer é que, antes do rompimento radical com a situação de pecado, é possível que se dê (geralmente se dá), no íntimo da alma, uma luta entre o que se faz e o que vai se vendo que se deve fazer. Neste sentido, aquele “senso de responsabilidade” representado pelo “cuidado” expresso, ainda que não suficiente, com o outro, não poderia ser o início deste processo?
Pergunto porque realmente não sei...
A coisa me parece por demais complexa. Gostaria que alguém comentasse isso aí.