"O filho único é uma vítima dos pais" Nelson Rodrigues
Ao ver que alguém veio neste blog procurando algo a respeito deste tema tão polêmico e tão pouco conhecido na sua inteireza, mesmo entre os católicos, lembrei-me de uma carta que a este respeito eu li há alguns dias, disponibilizada no excelente site Montfort e que transcrevo pra cá. Boa leitura.
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Ana, Católica, 29 anos, pós-graduação concluída
PERGUNTA
Boa noite, gostaria de saber se existe algum método natural seguro de planejamento familiar. Sei que a Igreja aprova os métodos Muco Cervical e Temperatura Basal, porém, tais possibilidades não me foram recomendadas por minha médica. Por isso, gostaria de saber se existe algum outro mecanismo para que eu e meu noivo possamos planejar nossa família com responsabilidade.
Obrigada,
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RESPOSTA
Prezada Ana, Salve Maria!
Quis reservar para mim o prazer de responder a sua carta pois, a situação que você tem agora diante de si, foi a minha há 16 anos atrás: como formar uma família católica. Deus julgará os resultados, mas do ponto de vista da satisfação pessoal, posso dizer que sou extremamente feliz. Tenho seis filhos e ainda não perdi a esperança de ter um sétimo.
O planejamento familiar que a doutrina católica lhe recomenda é: tenha filhos.
E por que não? Você concorda comigo que o argumento "econômico" é hoje em dia universal? "Não temos condições de ter mais do que x filhos." Não pode o rico, não pode o remediado, não pode o pobre. E ai de quem acha que pode! Desperta a fúria de pessoas a quem jamais pediu qualquer ajuda... decerto serão estes os gerentes financeiros da humanidade!
Já se sabe porém que é falso o temor de que a humanidade vai morrer de fome em breve, por culpa dos procriadores inconscientes. Como evidências disto estão aí os resultados espetaculares da agricultura nas últimas décadas e o crescimento geral da riqueza em todos os países.
Mas e a superpopulação? Como imaginar o mundo apinhado com mais bilhões - talvez trilhões - de novos seres humanos? Mais do que imaginar, veja-se, ao invés disso, o drama muito real dos países europeus em queda populacional, às voltas com crises na previdência - já não há trabalhadores jovens para sustentá-la - e uma forte imigração mal digerida - e inevitável pois não há europeus para ocupar os postos de trabalho. É a taxas de fertilidade abaixo ou próximas de um filho por mulher, e ainda caindo, que a Europa Ocidental pode agradecer tais crises.
Dizem os demógrafos que a população mundial se estabilizará por volta de 2050. Porém, o processo de limitação intencional da natalidade, começado na França no fim do século XVIII, praticamente não parou de crescer em parte alguma. Um dado curioso deste problema são as estatísticas que contrapõe o número de filhos desejados por mulher com o de filhos realmente nascidos: este número permanece estável desde a década de 50, entre dois e três filhos, enquanto o número real de nascimentos despenca constantemente. Parece haver na ideologia da limitação de filhos uma força de coerção que sobrepassa inteiramente os desejos individuais.
Mas e a saúde? Pense-se na pobre mãe exaurida por um número elevado de gravidezes... Mentira que conta com a falta de memória das atuais gerações! Pense-se antes no grande aumento dos cânceres femininos que é o resultado da falta de filhos: os especialistas concordam em que a gestação é um processo extremamente benéfico para a saúde da mulher.
Em todo caso, haja paciência para ter um monte de filhos! Deve ser um caos, uma família enorme! Não. É movimentada, divertida, variada, harmoniosa - mesmo com adolescentes turbulentos que podem ser por vezes um tanto ingratos, por falta de compreensão. E a conversa à mesa substitui com vantagem a vida dos outros que as famílias modernas freqüentemente vão buscar nas novelas, por falta de conteúdo de sua própria vida familiar. Não há o tirano que os psicólogos infantis vêem no filho único, nem a preocupação excessiva com o futuro do casalzinho - "se você tiver sorte terá um casalzinho"! Há irmãos e irmãs de todas as idades, para todas as ajudas, com quem se tem que dividir o quarto, o pote de sorvete e a janelinha - sem brigar, hem?
Falei demais e não respondi à sua pergunta: não há métodos totalmente seguros para se evitar filhos?
Há só um que a Igreja sempre exaltou e que o mundo odeia: o celibato.
O mundo obtém resultados mais eficazes porque não tem tantos escrúpulos morais: esterilização cirúrgica, aborto precoce ou tardio, ingestão de hormônios e "otras cositas más" que permitem 100% de prazer e 0% de responsabilidade, além de uma desagregação social, e um apodrecimento moral nunca vistos.
Refiz a pesquisa no site de busca que você indicou e também não encontrei nada de realmente interessante sobre este assunto. Há alguns documentos pontifícios sobre a questão e alguns livros meio antigos que eu poderia procurar para lhe recomendar. Se lhe interessar, volte a nos escrever.
Antes de encerrar, permita-lhe elogiar a preocupação de ser fiel à orientação da Igreja.
Reze para ver a solução de seu problema porque Deus jamais recusa o auxílio a quem pede convenientemente. Reze também por nós, que aguardamos um novo contato como de uma nova amiga.
In corde Iesu,
Lucia Zucchi
Fonte: Montfort
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