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Feliz Natal - Algumas Meditações


E estamos, novamente, às portas do Natal. O menino Deus, o Rei de Israel, o desejado das nações, virá. A estrela já lhe anuncia a chegada. Os reis já rumam ao seu encontro e os pastores daqui a pouco ouvirão o canto dos anjos.

Aquele de quem se falou que iria reger com cetro de ferro e que iria restaurar o reino de Israel vem ao mundo como uma criança indefesa, inofensiva, pobre. Buscarão um lugar para que ele nasça com algum conforto e dignidade, mas não encontrarão sequer o mais modesto quartinho. Quem imaginaria que o aparente caos do improviso seria, antes, uma escolha d'Ele?

"Não há lugar aqui para vós", foi o que escutou dos homens ocupados com suas coisas. Encontrará abrigo sob a vigília dos animais, do boi e do burro que, diferentemente dos homens, conhecem o presépio do seu Senhor. (Isa 1,3)

Ei-Lo exposto ao frio, na nudez de Sua pobreza, sem um berço ou uma cama Aquele que não terá onde reclinar a cabeça e cujo trono será uma cruz. Eis Aquele de Quem Francisco chorava: "o Amor não é amado".

Nós somos, nesta festa misteriosa, chamados a acercar-nos da sua manjedoura. Mas para fazê-lo, espera-se que encaremos com profundidade o que aqui acontece. Costumamos dizer que o Natal é um tempo de festa - e o é - mas isto parece legitimar o nosso riso fácil, a nossa dispersão, o nosso superficialismo.

Porém, a alegria de que aqui se fala surge dentro da alma, da contemplação detida da presença dAquele que veio para nos salvar. Deveria ser uma alegria extasiante, mas a maioria de nós compreende muito pouco a sublimidade deste evento.

Devemos nos ater a algumas coisas:

Quando Ele vier, nós não O reconheceremos se, antes, não nos tivermos esvaziado das nossas suposições a Seu respeito. Tampouco lhe daremos abrigo se não aprendermos a parar o fluxo frenético das nossas preocupações e da satisfação dos nossos interesses. "Cessai e vede que eu sou Deus"  (Sl 45,11)

Assim como os reis magos, é preciso que saiamos de nossa própria terra, isto é, dos nossos interesses pessoais, do nosso "mundinho", e viajemos e trabalhemos e tenhamos algum cansaço em procurá-Lo. "Sofrer pelo Amado é melhor que fazer milagres", escrevia S. João da Cruz. Neste percurso, o que nos guiará é a luz obscura da Fé e a sede da fonte que o deserto desperta. Ao encontrá-Lo, deveremos também Lhe entregar os três presentes: o incenso, reconhecendo que aquele menininho frágil é Deus Soberano; o ouro, testemunhando que o pequeno ser é Rei verdadeiro e absoluto ao qual nos submetemos inteiramente; e a mirra, compreendendo o mistério da Sua vida à luz da Cruz e oferecendo a Ele os nossos trabalhos e fadigas para sermos menos indignos de Sua Majestade.

Assim como os pastores, devemos acorrer a Ele na nossa pobreza, na nossa humilde condição e compreender que Ele é, na verdade, o verdadeiro Pastor, Aquele que veio para nos atrair a Si, nós que andávamos desgarrados e perdidos, cada um em seu próprio caminho. (Isa 53,6)

E há aqui uma questão fundamental: muitos de nós nos aproximamos d'Ele como se fosse um ser inerte, uma imagem de gesso ou somente um infante que nada sabe. E, no entanto, estaremos diante de Deus. Isto é algo aterrador! Jacó, ao acordar do seu sonho, afirmou abismado: "que terrível é este lugar; é nada menos que a casa de Deus!". Com muito maior razão deveríamos repetir exclamação semelhante: "Que terrível é este menino; é nada menos que Deus Onipotente!" Triste é saber que muitas das nossas visitas ao Presépio são marcadas pela banalidade.

Jesus menino, ainda que não saiba falar, é Aquele que tudo sabe. S. Josemaría Escrivá, sobre isto, dizia: 

"Diante do Presépio, sempre procurei ver Cristo Nosso Senhor desta maneira, envolto em paninhos, sobre a palha de uma manjedoura; e, enquanto ainda é Menino e não diz nada, vê-lo já como Doutor, como Mestre. Preciso considerá-lo assim, porque tenho que aprender dEle."

Vê-Lo é deixar-se ver. Contemplar a nudez do pequeno Deus é expor a nossa própria nudez. O olhar de Cristo nos transpassa e penetra até o fundo. Aqui está um dos pontos que mais me tocam: não sei como não ficar constrangido diante d'Ele. Vê-Lo significa contrastar com Ele, a Humildade Encarnada, a minha vida marcada pela soberba e os meus caprichos egoístas. É contemplar o mistério da sua Kenose, do seu rebaixamento, a partir do falso alto da minha presunção. E Ele me vê a fundo. Como não ficar constrangido? "O amor de Cristo me constrange" (II Cor 5,14)

Este mesmo olhar, anos depois, incidirá sobre Pedro quando da sua negação. Jesus o olhará nos olhos e Pedro, sem poder recorrer a subtefúrgios, sem quaisquer outras máscaras sob as quais pudesse defender-se, absolutamente nu diante dEle, só pôde romper em choro por ter abandonado o seu Mestre. Quisera que o olhar do divino Infante produzisse efeito semelhante em nós que O contemplaremos. Quisera antes as lágrimas de amor do que o sorriso forçado de uma convenção.

Muito comovente, porém, é ver que, mesmo diante dos meus crimes, Ele não hesitou. Veio a mim e expôs-se. Conhecendo-me até a medula dos ossos, parecia antecipar-se ao meu constrangimento e dizer-me nos seus vagidos: "não temas". Foi o amor que O trouxe a uma terra estranha, onde experimentará a dor e a morte. Foi o amor que O levou à total entrega de Si mesmo para que, por fim, Ele pudesse garantir-me um lugar ao Seu lado. "Onde eu estou, quero que eles também estejam", dirá Ele em súplica ardente ao Seu Pai. 

Por fim, temos de amar o infinito amor humilhado. O amor implica imitação do amante com relação ao amado. Se amamos ao menino Jesus que é, nos termos de Sto Afonso, "excessivamente amável" no presépio, teremos de imitá-Lo. Se Ele se esvaziou, devemos nos esvaziar de nós mesmos. Se Ele se fez pequeno, devemos nos rebaixar para adorá-Lo. Se Ele, que repousava no Seio do Pai, humilhou-se até o ponto de chorar numa noite ao relento, não devemos ficar presos aos limites do nosso conforto. É preciso sair, enfrentar o frio da vigília ao relento e estar com Ele.

Imitá-Lo é abraçar a Sua pobreza, é querer unir-Se a Ele em amor perfeito. Se compreendêssemos bem estas coisas, a alegria do Natal brotaria naturalmente no íntimo da nossa alma e os nossos sorrisos denunciariam aquilo que S. Francisco definiu tão bem: "o cristão é alguém que não consegue esconder a sua alegria por ter descoberto tão precioso tesouro".

É esta alegria que eu desejo a todos os amigos do GRAA, a todos os leitores deste blog e a todos os seus familiares. Que a Virgem Santíssima nos conduza à contemplação deste adorável mistério e que, por suas mãos, o Cristo infante infunda nas nossas almas o fogo do amor cujo ateamento foi sempre o Seu único desejo.

Feliz Natal.

Fábio Graa.
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