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Conversa entre um exorcista e um satanista


Testemunho do Fr. Christian Cruty, O.F.M., exorcista de Avinhão, França.

"Sendo exorcista de uma grande cidade francesa, onde exerci o meu ministério à sombra da Virgem Bendita, aconteceu de acolher muitos infelizes, atormentados ou perseguidos por Satanás, ouvir muitas confissões libertadoras e ser testemunha de libertações ou curas, que somente posso atribuir à intervenção misericordiosa da Mãe de Deus, mediante a oração de exorcismo da Igreja, de quem sou servo e instrumento. Entre muitos fatos, parece-me proveitoso contar um deles, que me deixou completamente perplexo.

Entra no meu escritório um homem estranho e esquisito. Tudo nele é claramente insólito: o aspecto, o comportamento, a roupa extravagante e, sobretudo, um cheiro estranho, repelente, fétido! Não era cheiro de vício, mas de qualquer coisa indefinível, entre o ovo choco e enxofre. Pensei imediatamente que poderia ser um determinado tipo de incenso, usado em certas seitas de blasfêmias, que, com o tempo, impregna as roupas dos participantes.

Aquele homem, com o seu comportamento enigmático e curioso, parecia me indagar, para adivinhar os meus pensamentos e os meus sentimentos. E, no entanto, eu percebia que não desconfiava de mim, mas de alguém que não eu. De fato, de vez em quando, virava-se de lado ou baixava a voz, de modo que poderia ser ouvido apenas por mim. Mas nós estávamos a sós! Primeiro, pensei que temesse ser visto ou ouvido por algum dos meus penitentes; mas, depois, compreendi que tinha medo de ser espiado ou seguido por um membro da sua seita ou , mais precisamente, do malefício ou da bruxaria de que se tornava escravo.

A sua roupa, roxo e cinza, tinha um corte estranho. Pouco a pouco, fui me lembrando de já tê-lo visto reproduzido numa revista que se falava de uma missa satânica: era precisamente um daqueles paramentos litúrgicos. Depois, foi ele mesmo quem me disse:

- O meu mestre trabalha, sobretudo, à noite.

E continuem a pensar que se tratava, segundo a tal revista, de uma liturgia luciferina. Este homem disse que praticava o ocultismo e a magia negra. Era uma confissão que muitos outros já tinham me feito, mas em busca de libertação. Porém, eu não compreendia as intenções daquele visitante; confirmou que estava ligado a uma seita satânica com certo ritual, mas não parecia desejar ser libertado.

Eu pensava: por que veio me procurar? Certamente para obter uma libertação de Satanás. Ou talvez quisesse hóstias consagradas, para poder profaná-las? Ou esperava atrair-me a ti? Ou, então, apenas queria me anunciar a vitória, falava sempre dele, parecia que tinha uma grande mensagem e transmitir a este padrezinho de Cristo. Tomei imediatamente apontamentos sobre tudo o que me havia já dito. Eis uma parte:

- O meu mestre venceu você! Estamos destruindo a sua Igreja. É o meu mestre quem estabelece o equilíbrio entre as nações e domina completamente a sua Igreja. Deve reconhecê-lo! Sim, é evidente a força de Satanás no mundo, contra quem a própria Virgem nos avisa nas diversas aparições. Como é evidente que em muitos vacilam as três colunas (a Eucaristia, a Senhora e o Pontífice), também vacila a sua fé. Paulo VI e João Paulo II falaram; sobretudo fala do Apocalipse, da luta de Satanás. É a sua hora: mas é também a hora da Mulher vestida de Sol.

Quando interrompeu o seu monólogo e me permitiu falar, fiz que percebesse que a vitória do demônio é só provisória e aparente, por algum tempo. Com a sua cruz, Jesus venceu Satanás precisamente no momento em que Satanás se considerava vencedor e assim acontecerá com a Igreja: a sua paixão atual põe em marcha aquela renovação interior que prepara para o novo Pentecostes, muitas vezes anunciado e tão desejado. Satanás é uma das muitas criaturas de Deus, criada boa e que se perverteu por sua culpa.

"Não! Satanás é igual a Deus!", apressou a dizer o meu interlocutor, quando percebi que não queria falar de Jesus, mas apenas de Deus. "A sua rebelião contra Ele foi um sucesso!" E, de vez em quando me perguntava: "Mas não tem medo do meu mestre?"

De início, esta frase, frequentemente repetida, soava-me como uma ameaça; depois foi revelando que havia nela um medo íntimo, porque Satanás vê tudo e ouve tudo. Reafirmei que lhe falava em nome de Jesus, de quem era sacerdote, e que nada me podia acontecer sem a Sua permissão. Além do mais, eu tinha a proteção da Virgem, sobretudo durante os exorcismos.

Não o agradava que eu falasse da Virgem e esforçava-se por desviar a conversa para o seu mestre, Satanás. Então, recordei-lhe o Proto-Evangelho: "Farei reinar a inimizade entre ti e a Mulher". Ele aceitou a conversa, mas com uma interpretação sua: "E Satanás morder-lhe-á o calcanhar, quer dizer que a vencerá". Depois, passei a explicar a respeito da visão do Apocalipse, sobre a Mulher vestida de Sol, a luta com o dragão vermelho que é derrotado por Miguel. Eu pensava que também haveria discussão sobre os textos bíblicos que narram as tentações de Cristo. Mas o assunto Maria operou uma reviravolta na nossa conversa: diante deste tema, começou a se sentir indisposto, angustiado e, por fim, desesperado.

Primeiro tinha-lhe dito que o seu mestre não lhe poderia dar a paz do coração nem, muito menos, a felicidade. Pelo contrário, Jesus dava a paz e a alegria; libertava, precisamente, do poder de Satanás que, no máximo, prometia dinheiro, poder e glória humana. Dentro de mim, orava incessantemente à Virgem Maria e, assim, via que ele ia perdendo terreno e recuava; estava claro que só tinha medo do seu mestre. Então, falei para ele sobre o amor do meu Mestre, que morreu para me salvar e perdoou tudo. Ele falou da sua blâsfemia (a sua mudança de opinião) num tom de verdadeiro desespero. Só depois, quando refleti, é que me lembrei da sua referência ao pecado contra o Espírito Santo e me pareceu que aquele desgraçado não deveria ser plenamente culpado disso.

Convidei-o para se arrepender e deixar o seu mestre; disse-lhe que, todas as noites, eu pedia perdão a Deus por todos os pecados e também pelas blasfêmias. Aquele homem parecia perturbado, prensado entre dois sentimentos: a esperança e a desesperança. Perguntei-lhe se aceitaria que eu orasse por ele. Pareceu-me favorável e fiz interiormente um breve exorcismo para expulsar Satanás; depois, repeti-o em voz alta.

Era demasiado! Levantou-se como se fosse fugir, mas, antes, disse-me o seu nome: Pedro. E saiu correndo.

Ainda hoje me interrogo sobre o significado daquela visita. Aquele homem terá sido enviado por Satanás para me desviar? Terá sido mandado pela Senhora para ser convertido, ou, pelo menos, para que orasse por ele? A verdade é que pude ver palpavelmente como é difícil, para um membro de uma seita satânica, para quem é consagrado ao demônio, voltar para Deus."

Fr. Christian Cruty, O.F.M

Novos Relatos de Um Exorcista, Gabriele Amorth
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