Deve ficar claro que o contemplativo e o marxista nada têm em comum. Eles não pensam do mesmo modo, nem mesmo enxergam as mesmas coisas. Para ser marxista, é necessário reprimir todo e qualquer "interesse" interior e pessoal pela realização espiritual e perder-se inteiramente no mistério coletivo da revolução. A contemplação só pode interessar a um marxista se o pegar na ressaca, depois de perder a graça dialética, em um momento em que sua fome interior acidentalmente exija reconhecimento.
(...) Há no marxismo uma quantidade suficiente de falso misticismo e pseudo-religião para seduzir quem quer que sinta necessidade de um substituto para a religião espiritual. Não há dúvida de que a exigência de "fé" e auto-sacrifício feita pelo marxismo é uma realidade muito mais humana e muito mais sólida que o irresponsável pseudocristianismo que ainda floresce em certas sociedades inteiramente devotadas a valores seculares. Existe algum perigo espiritual no marxismo e na pseudocontemplação que sua visão de mundo implica. Esse perigo reside no apelo misteriosamente religioso que este oferece àqueles que não têm mais estômago para as formas vazias de religião popular, nas quais o conceito de "deus" morreu de cansaço.
Thomas Merton. A experiência interior. São Paulo: Martins Fontes, 2007. p.153-154.
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