Tradutor / Translator


English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Dia de Finados


Hoje a Igreja celebra o dia de Finados. Nele, nós lembramos dos nossos amados que já partiram, sentimos saudade e a esperança de revê-los mais uma vez, só Deus sabe quando e como. Mas não é só deles que nós devemos lembrar. A morte é uma condição de toda a natureza humana, e nós estamos obviamente incluídos nessa natureza. De que modo a pensamos, então? Se é que pensamos...

Sim, nós vamos morrer, e saber disso não é ruim. Aliás, os santos da Igreja nos recomendam com insistência: lembrai-vos da vossa morte. É a idéia da finitude que imprime peso à nossa vida. Este peso aqui indica seriedade, gravidade, profundidade. Mas é uma finitude especiosa. Na verdade, ela não faz acabar senão um modo de existência; mas é porta para outro, mais completo, mais denso, mais real. A perspectiva de uma eternidade que será, de certo modo, efeito da nossa vida aqui na terra nos força a ter um senso de responsabilidade que, bem entendido, nos deveria acordar das nossas ilusões, fantasias e brincadeiras. Mas, ao mesmo tempo, a esperança a que somos chamados é suficiente para iluminar, de modo assombrosamente feliz, as dores deste exílio. Com efeito, diz São Paulo, os sofrimentos daqui não possuem proporção alguma com o peso de glória que deles pode proceder. Há, portanto, uma profunda assimetria entre esta vida e a outra, de modo que, feita a comparação, isso aqui não é mais que um sonho.

Quando vemos um morto, não devemos agir como sujeitos míopes que não enxergam muito além do nariz. A rigor, uma pessoa nunca morre, mas passa pela morte. A morte acontece no corpo, que é somente a parte material da pessoa. Porém, a personalidade, a consciência, a unidade espiritual constituída de inteligência e vontade, permanece, mantém-se, e isso pela eternidade. Vejam o alcance disso: uma vez que existimos, somos eternos.

Esta vida, comparada com a eternidade, é ainda menos do que o período de gestação em comparação com a vida pós parto. Na verdade, isto aqui é menos de um segundo diante da eternidade. Isto significa que este segundo será bom ou ruim segundo a sua relação com a realidade vindoura. Este segundo, se mal vivido, terá uma repercussão de desgraças eternas. Do mesmo modo, se bem vivido, nos abrirá para a bem aventurança sem fim. É como a hora do "sim" - ou do "não" - do casamento. Uma resposta, breve, curta, rápida, decidirá se haverá festa ou choro.

O dia de finados tende a nos tornar sérios, graves, meditativos. Mas isso não deve indicar tristeza, pois, como diz a Escritura, não há utilidade nenhuma na tristeza. Uma pessoa triste demonstraria não entender bem as coisas. É claro que é natural que nos invada a saudade, sobretudo porque neste dia costumamos visitar o cemitério, onde dormem os corpos dos nossos queridos. Porém, mais do que isso, este dia deve servir para nós como uma janela, ainda fechada, mas que, por sua própria existência, fala de um ambiente depois dela. Agora, estamos num casebre, ou, no dizer de Sta Teresa, numa pobre choupana. Os limites disso aqui são estreitos e há pouca luz. Mas, por esta janela, é possível meio que vislumbrar um ambiente muito distinto no qual a largueza se estenda até a linha do horizonte. Isto é um símbolo da perfeita liberdade que pode nos esperar, então. Mas, para tal, é preciso examinarmos a nossa vida, fazermos um sério exame de consciência e passar a viver segundo a vontade de Jesus. Este é o amor que vence a morte.

Neste dia de finados, rezemos pelos nossos defuntos, pelas almas do purgatório, e pensemos naquela que S. Francisco de Assis chamava de "irmã morte". Ele o fazia porque, não obstante a aparência, é a morte que nos abre, se estivermos devidamente maturados e limpos, as portas para o doce encontro com o Cristo.

Que a Virgem Maria, mãe do Verbo, esteja sempre conosco, cuide de nós e nos conduza por estes benditos caminhos do Seu Filho. E que, na hora da morte, seja ela a vir nos buscar e nos introduzir naquele bendito Reino, que é a nossa Pátria.
Blog Widget by LinkWithin

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...