Tradutor / Translator


English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Dia de todos os santos - O que são os santos


Hoje a Santa Igreja comemora o dia de todos os santos e este é um assunto ainda polêmico, infelizmente. É polêmico porque em geral não é bem compreendido por quem não é católico. Ontem eu estava dando aula e, como tratava do pensamento sofista de Protágoras, fiz uma ponte pra falar do intenso relativismo contemporâneo no qual vivemos. A fim de usar um exemplo que fosse bem conhecido dos alunos, eu fiz menção à problemática religiosa de que o mundo atual tem sido palco. Há uma infinidade de religiões; pelo menos no Brasil, é comum ver, em uma só rua, mais de uma igreja protestante. E o que determina qual religião deve ser seguida é, no mais das vezes, o gosto pessoal. Há inúmeros exemplos de pessoas que, aderindo a uma prática que não é aceita pela sua denominação atual, mudam para uma religião que os acolha sem ser preciso que mudem de conduta.

E assim, a coisa toda fica muito solta: eu decido o que seguir não pela verdade deste ou daquele discurso, mas segundo este ou aquele discurso me agrade, concorde comigo e com os meus interesses. Temos um self service de religiões. Há algumas delas que desafiam os limites do absurdo. Um dos grandes determinantes para aderir a um caminho religioso se tornou o próprio conforto, o bem estar; em suma, o egoísmo. É a mesma lógica de quem peca: buscar prazer, conforto, bem estar, etc.

Mas isso tudo em nada se parece com a "negação de si" de Cristo falou. Converter-se é conformar-se ao Evangelho, e não adaptar o Evangelho a si. E isto é o básico. Se sequer isto é compreendido, está-se em maus lençóis, pois é prova de que não se dispõe do mais mínimo para compreender qual seja a natureza do cristianismo ou do fenômeno religioso como um todo. Uma religião vivida segundo os moldes atuais antes deforma do que forma; as pessoas que se acostumam a este tipo de coisa terminam tendo o próprio caráter grandemente prejudicado, e o hábito da auto-mentira tende a assumir um status divino. É o caminho da iniquidade institucionalizada e disfarçada de religião. Como atacar algo que foi identificado com a própria natureza do sagrado? E isto tudo, além de impedir uma vida espiritual autêntica nos seus seguidores, termina servindo de escândalo e de troça diante dos outros.

Pois bem, eu estava falando do relativismo religioso, e uma das alunas falou que uma das grandes diferenças, hoje, é a entre evangélicos e católicos. A distinção, segundo ela, consistia no fato de que os primeiros adoravam a Deus, enquanto que os segundos serviam aos santos. Este tipo de ignorância total a respeito do catolicismo ou dos santos em geral não é exclusivo dos protestantes. Muitos católicos terminam adquirindo uma visão parecida, seja no sentido de desprezar os santos, seja no sentido de divinizá-los. Mas essas visões são de todo equivocadas. A fim de que nossa fé seja sadia, é importante que a gente compreenda bem tudo isso. Esclareçamos, portanto:

A santidade implica sempre um altíssimo grau de bondade. Não se concebe que um santo seja mau. Quando dizemos de outro: "é um santo", queremos significar que este outro tem ações e intenções puras e boas. A santidade pressupõe a bondade. Porém, "só Deus é bom", diz Jesus. Esta afirmação não significa que não haja bondade no mundo, mas que não há outra fonte de bondade a não ser o próprio Deus. Fora de Deus, nada é bom. Com Deus, tudo é bom. O segredo da bondade é estar em Deus. Aquele que vive com Ele termina participando da Sua bondade e se torna bom por participação. Ora, se a bondade leva à santidade, então é preciso admitir que também os homens podem ser santos na mesma medida em que participem da santidade de Deus. E tal é a ordem de Jesus: "Sede santos como vosso Pai é santo!" Ora, se o próprio Cristo nos ordena tal, é porque tal é possível e, antes, exigido aos homens. Não há, então, nenhuma contradição no fato de existirem santos. Do que foi dito, também é preciso excluir a idéia de que o santo represente qualquer tipo de poder alternativo a Deus. O santo é, antes, uma pessoa humana que mergulhou tão profundamente em Deus que ficou "molhado" da Sua santidade e não apenas na superfície do seu corpo, mas desde dentro. A santidade significa uma profunda transfiguração de tudo quanto é humano. Ser santo é ser divinizado por Deus por participar da vida d'Ele. Com efeito, diz Jesus: "Se alguém me ama, meu Pai o amará, e eu virei a ele e me manifestarei nele." Ora, o modo de Jesus manifestar-se não é outro senão santificando aquilo em que Ele se manifesta. É o que aconteceu com S. Paulo: "Já não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim".

O que são os santos, pois? São pessoas humanas que, não obstante as suas fraquezas e inclinações ao egoísmo e ao pecado - como qualquer um de nós -, se abandonaram de tal modo a Deus que como que saltaram por cima de si mesmos, numa confiança absoluta, e se renderam inteiramente a Ele num estrito combate contra si mesmos, numa contínua auto-negação e, neste processo, segundo a pureza de suas intenções, foram auxiliados pelo próprio Deus que, então, os revestiu de Si, os transfigurou em Si e nos deu, de modo claro e inequívoco, a prova de que as verdades do Evangelho são eficazes e possíveis e que superabundam as nossas mais felizes expectativas.

A santidade não é outra coisa senão a reaquisição da saúde interior que nós perdemos pelo pecado. É o limpar dos olhos da alma que permitirá aos homens vencerem as ilusões e distorções deste mundo. Isto possibilitará uma visão totalmente nova das coisas e de si mesmos, pois, então, tudo se revela na sua relação mais íntima com Deus. Depois, é também a libertação das forças profundas da alma, em particular da força do amor, o que permite que a alma vença a sua estreiteza e a sua timidez de ocupar sempre e somente o pequeno espaço da sua redoma de desejos e medos. O santo é como alguém que redescobriu a liberdade e só então teve consciência da baixeza da sua escravidão anterior.

O santo, ao retomar a veracidade de sua vida, ao sair das ilusões e das escravidões, e ao tomar consciência mais clara do amor de Deus e do que significa ser Seu filho, descobre a felicidade. Uma felicidade que, como dizia S. Josemaria Escrivá, é algo muito diferente do prazer de animal sadio; é, antes, uma felicidade íntima, que surge de dentro, e muito diferente dos prazeres cá de baixo que meio que raspam na superfície do nosso ser. Ao descobrirem a natureza de tal felicidade, querem comunicá-la aos demais. O santo é assim uma poderosa testemunha do Cristo e da Verdade. É um inimigo dos confortos mundanos e dos prazeres egoístas. E, neste sentido, é uma constante ameaça às nossas hipocrisias e aos nossos auto-enganos. É alguém que grita como um alucinado, mas com profunda sobriedade: "é preciso sangrar por Cristo!" É alguém que, aos olhos do mundo, pode parecer um maluco. Mas, na verdade, o santo é aquele que se tornou sadio e denuncia a loucura do mundo.

Neste dia de todos os santos, olhemos para essas lâmpadas ardentes do fogo do amor divino. Cada um em sua época soube reacender no mundo aquele fogo que Jesus sonhava em fazer arder. Olhemos para eles e permitamo-nos inflamar de novo por Deus, para este Deus que se fez homem, deu Sua vida por nós e nos dá a oportunidade de nos tornarmos felizes na medida em que o amemos e imitemos. A santidade é o segredo da felicidade, assim como o pecado é o caminho para a frustração. Não sejamos tolos: amemos a Deus com a nossa vida; que ela seja uma canção de amor agradável a Ele. Que a nossa alma exale o Seu perfume. Que os santos intercedam por nós. Que a Virgem Santíssima nos dê as devidas disposições para seguir o Seu Filho. Amém.


Blog Widget by LinkWithin

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...