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Acerca da Santíssima Trindade


S. João da Cruz, Toledo, cárcere - 1578

Sobre o Evangelho "In Principio Erat Verbum".

No princípio morava
o Verbo, e em Deus vivia,
nele sua felicidade
infinita possuía.

O mesmo Verbo Deus era,
e o princípio se dizia.
Ele morava no princípio
e princípio não havia.

Ele era o mesmo princípio
por isso dele carecia.
O Verbo se chama Filho,
pois do princípio nascia.

Ele sempre o concebeu,
e sempre o conceberia.
Dá-lhe sempre sua substância
e sempre a conservaria.

E assim a glória do Filho
é a que no Pai havia;
e toda a glória do Pai
no seu FIlho a possuía.

Como amado no amante
Um no outro residia,
e esse amor que os une,
no mesmo coincidia

com o de um e com o de outro
em igualdade e valia.
Três pessoas e um amado
entre todos três havia;

e um amor em todas elas
e um só amante as fazia,
e o amante é o amado
em que cada qual vivia;

que o ser que os três possuem,
cada qual o possuía,
e cada qual deles ama
à que este ser recebia.

Este ser é cada uma,
e este só as unia
num inefável abraço
que se dizer não podia
pelo qual era infinito
o amor que os unia,

porque o mesmo amor três tem,
e sua essência se dizia:
que o amor quanto mais uno,
tanto mais amor fazia.

São João da Cruz, Romances Trinitários e Cristológicos.
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2 comentários:

  1. É um texto muito belo e complexo. Fiquei pensando em algumas questões sobre a trindade...
    Sempre existiram as 3 pessoas da Santíssima Trindade, certo? Mas Jesus, em determinado momento, fez-se homem, portanto, embora já existisse, não o era enquanto tal. Enquanto homem, embora possuisse a divindade não a exercia plenamente (oniciência, onipresença...), certo? Ele não o fazia por escolha, embora pudesse fazer se o quisesse, ou enquanto homem não podia fazer? Depois de sua vinda e morte, Jesus ascende ao céu em corpo, pode-se dizer que foi acrescido algo a Ele?

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  2. Rafaely, vamos lá.
    1. Sempre existiram as três pessoas da Santíssima Trindade. Correto.
    2. De fato, antes da encarnação do Verbo, ELe não era homem. Certo.
    3. Sobre Jesus enquanto homem, é necessário explicar certas coisas bastante complexas. A união das duas naturezas, humana e divina, em Jesus chama-se "união hipostática". Nesta união, as duas naturezas se unem numa só sem corrupção de nenhuma das partes. Isto é um mistério de Fé. Nem a natureza divina sofre mutilação (o que seria um "non sense") nem a natureza humana (como pretendiam alguns teóricos no início da Igreja). Dessa forma, Jesus apresenta, em virtude das duas naturezas, duas vontades e duas inteligências, mas, jamais, dois eus, como também erroneamente supuseram alguns no estudo desta questão. Em Cristo, há apenas um eu e as suas duas vontades estavam de tal forma unidas que se pode falar de uma só vontade moral. Esta existência das duas vontades, insinua-se, particularmente, na agonia do Getsêmani. Portanto, Jesus era livre para usar ou não a sua divindade. Prova deste uso são os milagres que realizou.

    Sobre as suas duas inteligências, vemos que o escritor sagrado, S. Lucas, afirma que Jesus crescia em sabedoria, tamanho e graça. Como homem foi educado por Maria SAntíssima e S. José, aprendeu a falar e a ler. Mas, pela sua sabedoria divina, Jesus conhecia o interior dos homens e, aos doze anos, ensinava aos doutors da Lei.

    Há defensores que afirmam que a Kenose (humilhação do Verbo) incluiria também o conhecimento do Verbo divino, embora lhe permitisse sabedoria singular tanto quanto exigido pela sua Missão Messiânica. Tais autores tendem, também, a negar a visão beatífica em Jesus, em sua vida mortal. Tal teoria, porém, não é ortodoxa e é negada, inclusive, por doutores místicos da Igreja como S. João da Cruz e Sta Catarina de Sena.

    Esta liberdade, porém, não significa que JEsus tenha usado a sua divindade a torto e a direito, desrespeitando a sua vida ordinariamente humana. Não, viveu verdadeiramente como homem, menos no pecado. Na Cruz, é comum ouvirmos que Ele usou de sua divindade, o que é errado, pois isto anularia o caráter expiatório e, mesmo, todo o valor do Sacrifício.

    Sobre a onipresença de Cristo, é dogma que, mesmo encarnado, Cristo nunca abandonou o Céu. Isto é particularmente difícil se quisermos compreender de forma puramente conceitual. Por isso, é verdade de Fé. Sendo assim, embora humanamente restrito a um ponto geográfico e cronológico, JEsus mantém, misteriosamente, sua Onipresença.

    Sobre a sua ascenção, temos que esclarecer a idéia que vc faz de acréscimo. Entendido como melhoria ou aperfeiçoamento é algo impossível, visto que, neste sentido, nada pode ser acrescido à divindade, que contém a máxima perfeição em si. Portanto, visto que Deus é espírito e, após a encarnação, se torna também carne, esta lhe é acrescida. Tal "mudança", porém, não lhe limita em nada os poderes nem, tampouco, os aperfeiçoa.

    Enfim. Aos teólogos de plantão que quiserem contribuir ao que foi expresso, ou fazendo correções, ou acrescentando algo... Fiquem à vontade.

    Pax.

    Fábio.

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Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

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