Dissemos já, várias vezes, que há um critério com relação à música sacra, estabelecido por vários Papas, que é o que estabelece o canto gregoriano como modelo supremo. As demais formas de canto serão mais ou menos dignas à proporção em que se aproximam ou se afastam deste modelo. O gregoriano é a arte que melhor expressa a filosofia católica a respeito da criação e da perfeita ordem dos entes. Uma arte, portanto, que imite esta ordem, agrada e honra a Deus, pois identifica a sua finalidade, que é produzir beleza, com a Beleza em si.
Relutar, pois, diante disto significa revoltar-se contra a vontade divina. Isto se faz por uma inversão do amor a Deus para o amor a si mesmo, desembocando num sensualismo que se pretende espiritual. Acontece, pois, que, em trilhando via contrária à de Deus, resulta daí que a música ou arte em geral será desprovida de beleza; irá, mesmo, contra a beleza e a ordem e, como tal, desagradará a Deus. Ora, a Liturgia tem como função máxima a glorificação de Deus. Incluir na Santa Missa formas musicais avessas à beleza é instalar, pois, uma contradição no culto sagrado. Isto se assemelha muito a certos tipos de profanação voluntária.
O que dizer, pois, da inculturação? Enquanto esta busca incluir elementos culturais de diferentes povos que não contradigam o espírito da Liturgia e, talvez, ajudem a enfatizá-lo, ótimo. Eis a Igreja para acolher tais elementos e aperfeiçoá-los, retirando-lhes toda sombra de erro. No entanto, aqueles traços culturais, aquelas formas de arte que vão opostos à substância mesma da Liturgia católica não podem, de forma alguma, ver-se no direito de adentrar no templo sagrado. Neste sentido, muitos desprezam solenemente o ensino católico com vistas em satisfazer expectativas de outros homens, num discurso meramente romântico e pouco objetivo. Importa lembrar do que nos diz S. Paulo bem a este respeito: “Se eu quisesse agradar aos homens, não seria servo de Cristo”. É preciso, pois, estabelecer claramente a quem nós queremos servir. Isto não significa pôr o homem em oposição constante a Deus, obviamente, mas, antes, esclarecer que quando esta oposição existir, deve-se dar a preferência a Nosso Senhor, tal como ensina o primeiro mandamento que qualquer criança sabe recitar.
Outras formas musicais, além do gregoriano, são aceitas pela Santa Igreja, mas isto desde que o espírito que lhas anima seja o mesmo espírito católico. É preciso estar mergulhado no sensus ecclesiae, é preciso estar impregnado do bom odor de Cristo para que o canto litúrgico, de fato, cumpra a sua função que é, primeiramente, a glorificação de Deus e, em segundo lugar, a santificação dos fiéis.
Haveria ainda muito a dizer sobre como a boa música litúrgica pode contribuir para esta santificação. Porém, por ora, importa que saibamos o que a Igreja ensina. Fazer de outra forma é subjetivismo, é revolta contra Deus, é antropolatria, é desobediência. Que triste é que o imenso tesouro musical da Santa Igreja seja jogado para o escanteio, enquanto toma lugar na Liturgia uma série de cantos medíocres, muitos teologicamente incorretos, outros puramente sensacionalistas, e outros ainda, numa clara imitação da música protestante.
É a beleza que é posta de lado em prol das paixões humanas, da desobediência, e tudo isto com o pretexto de ser feito por Deus e para Deus. Restituamos, meus caros, até onde nos seja possível, a dignidade artística das Santas Celebrações. É Deus quem nos pede.
Fábio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.