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O católico e a Verdade


Quanto mais nos aproximamos do fogo, mais ardemos. Da mesma forma, quanto mais nos achegamos à Verdade, mais nos consumimos de zelo por ela. Quando o anjo do Senhor perguntou a Elias o que ele fazia naquele monte, ouviu como resposta: “Estou devorado de amor pelo Senhor Deus dos exércitos”. É natural, pois, que o contato com Deus nos atraia. Não à toa, os místicos que vivenciaram tal proximidade de forma tão profunda, costumam chamar Nosso Senhor de “Doce Sedutor”, pois, de fato, como dizia o Salmista, Deus seduz o santo e este deixa-se seduzir. É a resposta humana ao amor primeiro de Deus.

Nem sempre, porém, este contato se faz de forma tão extraordinária. Deus, na sua discrição, costuma ensinar pelo comum, pelo cotidiano, pelo corriqueiro. É preciso que busquemos a sua vontade dentro dos eventos diários e ordinários da nossa vida. Como bem nos ensinava S. Josemaria, é necessário ser íntegro em tudo. Disto resulta que, do movimento mais intranscendente, reverbera o mistério da divindade. Exalar o bom odor de Cristo é bem por aí.

Com relação aos estudos, os católicos têm uma responsabilidade particular. Escrevia o Pe. Leonel Franca que, assim como, a partir de Jesus, todos os amores e ódios dos homens a Ele se dirigem, da mesma forma, as inteligências deverão ou aderir à sua proposta, ou renegá-la, resultando a impossibilidade da indiferença. O católico, porém, é alguém que põe todo o seu ser a serviço de Deus. Este serviço é, também, intelectual e isto se faz muito claro já quando João escreve no Seu evangelho que o Lógos se fez carne. Ora, o Lógos ou Palavra é justamente o componente revolucionário que vem acabar com a prevalência das explicações míticas e simplistas que haviam amortecido a tensão da procura da Verdade. A partir de Jesus, o Lógos feito carne, os homens se verão comprometidos a rejeitar as ilusões, e a aderir à verdade.. Cristo, por fim, afirma ser Ele mesmo a verdade. Ora, a verdade é objeto do intelecto; daí que o católico, segundo suas possibilidades, deve sim estudar, obedecendo o preceito de amar a Deus com todo o seu ser, toda a sua alma e todo o seu entendimento.

Neste sentido, Sto Agostinho recomenda que se ame muito a inteligência, pois a boa fé supõe que se compreenda bem. A Igreja ensinará ainda que a Fé é uma virtude intelectual, pois o católico adere a Fé a partir do momento em que a conhece. S. Josemaria, por fim, profere a sua célebre frase: “se puder ser sábio, não te permito que não o seja”. O obscurantismo, portanto, de que muitos acusam a Santa Igreja não é característica típica dela; é justamente o contrário.

Logo quando entrei para o Curso de Filosofia, em pouco tempo, pelas minhas pesquisas pessoais, passei a descobrir vários nomes de Filósofos que haviam sido católicos. Não falo sobre Descartes ou similares, cujas “filosofias” qualificaria como, no mínimo, estranhas. Falo de homens que foram católicos também neste campo, homens antigos e contemporâneos. Eu comumente me emocionava por saber que havia tantos católicos eminentes nesse meio, e que aquele preconceito de que filosofia e fé são quase contrários se mostrava como um grande disparate. Hoje, embora existam muitos teóricos que eu ainda não tenha tido acesso, posso dizer sem medo: os maiores intelectuais que conheço foram e são, sem dúvida, católicos. Isto talvez seja meio precipitado de se afirmar pois, como eu disse, há tantos que desconheço. Mas tal afirmação entra em profunda consonância com aquilo que dizia antes: o cristianismo, trazendo a nós o Lógos, de forma que Ele mesmo nos fale de Si e afirme inequivocamente ser a Verdade, compromete-nos com o conhecimento e amor desta Verdade que é, de fato, a única, da qual tudo quanto seja verdadeiro participa.

Sendo, pois, que a Verdade é alguém e é Deus, surge o dever de amá-la sobre todas as coisas. Não se concebe, então, um cristão que não seja sincero, que não tenha a verdade como norte. Algo que muito corriqueiramente se vê nos que atacam o catolicismo é a facilidade com que se mente e se distorce. Bem dizia Dostoiévski que, a partir do momento em que se afirma a morte de Deus, tudo se é permitido. Resulta daí uma moral flutuante que estabelece como critério de valor a serventia da proposição, seja ela verdadeira ou não, a uma intenção subjetiva. Quando não se crê, portanto, é fácil mentir. Porém, o cristão não pode confortar-se com a mentira. Precisa ser experimentado no labor da busca pela verdade. Quando um sofista como o Sr. Richard Dawkins, por exemplo, condena a religião como uma chupeta que satisfaz a tensão da dúvida, impedindo o homem de trabalhar seriamente na busca pela explicação verdadeira, incorre num erro que provém, também, do seu “agarrar-se ao positivismo”, o que lhe serve como absoluto, ou chupeta da imbecilidade que lhe impede de considerar seriamente a complexidade do evento religioso. Vê-lo, por exemplo, reputar à variedade de movimentos religiosos a evidência da falsidade de toda e qualquer religião, ou simplesmente perguntar sobre o suposto criador de Deus, chega a ser cômico para um homem que se propõe o cientista libertador dos “supersticiosos”. Para Dawkins, mentir não seria erro algum, visto que ele nem mesmo sabe de onde tirar a sua moral, identificando-a, antes, a um utilitarismo sexual perpetuado na espécie.

O cristão, porém, não pára com a afirmação de que Deus fez o mundo. Isto, ao invés, serve-lhe de luz que, incidida sobre o mistério do ser, o motiva ao trabalho, à pesquisa, ao estudo. Não espanta, portanto, que, como eu disse, sejam os católicos os maiores intelectuais que conheço. São os únicos que têm um compromisso com a verdade como com o próprio Deus. E aquele que procura, acha, já disse um dia a Verdade encarnada. Porém, aos soberbos, Ele, a Verdade, resiste.

 
Sejamos, portanto, humildes e estudemos para que, como Elias, alimentados pelo pão misterioso, também nós ardamos pela Verdade.
 
Fábio Luciano.
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