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14 de Dezembro, dia de São João da Cruz - Os santos morrem de amor...



Perguntamo-nos muitas vezes sem obter a resposta que esperamos: como morrem os santos? "Como se vive, assim se morre", diz o dito popular, condensando em uma simples frase a vida e a morte. Justamente porque sabemos que a morte é o resumo de toda uma vida, nos desperta a curiosidade a morte dos santos. Quando lhes é comunicado o aproximar-se do momento e se começa a contagem regressiva, sentem-se tão felizes como diante de um anúncio de festa; adquirem uma serenidade toda nova, revelada pela luminosidade e a paz difunde-se no rosto. O salmista também nos diz que a morte dos justos é preciosa aos olhos de Deus. Mas, efetivamente, como é?

Frei João (da Cruz) afirma, na prática, que para a alma chegada ao estado de união transformante, há pouca diferença entre a visõ beatífica e a experiência que se faz de Deus nesta vida, especialmente quando a Divindade se faz sentir um pouco mais. O santo diz que se "prova, com efeito, alto sabor de vida eterna" (Cha 2,20); recorda, ainda uma vez, a inefabilidade do acontecimento e nos faz compreender que se trata de uma experiência toda pessoal, porque "a linguagem própria (para falar destas coisas) é aquela de somente entender dentro de si, e sentir, calando e gozando quem as recebe" (Cha 2,20).

Podemos pensar, então, que a morte de um santo que tenha, como ele, atingido um grau assim tão elevado de união é simplesmente a passagem de um grau de visão para outro mais alto e mais perfeito, mas que, substancialmente, é a mesma coisa.

O fato de receber faíscas de vida eterna põe evidentemente na alma a ânsia da totalidade e da permanência. É o que frei João afirma na Chama: "Acaba já, se queres", e comenta: "...acaba de consumar perfeitamente comigo o matrimônio espiritual por meio da tua visão beatífica" (Chb 1,27). A alma, achando-se ainda no corpo, deseja ardentemente a perfeição da caridade com a visão da glória (cfr. Chb 2,35). Agora o véu que a separa da visão se torna sempre mais sutil, transparente como o cristal puro, inconsistente e, deixando entrever algo que vai além, a consome no grande desejo de ver Deus sem ter os olhos encobertos e de amá-lo sem medidas.

A morte, então, não é uma chama que se apaga por completo; é, ao contrário, um fogo que incendeia totalmente a alma e a arranca do corpo, definitivamente.

Neste sentido - e é o verdadeiro - a morte é causada pela vida, isto é, pelo amor.

Os ardentes sentimentos do coração perdem a sua impaciência e se recostam sobre a vontade de Deus com abandono e suavidade. É esta também a razão pela qual a alma pede, em humilde oração, que se rompa "a tela" delgada de sua vida, sem deixar, assim, "chegar até ser cortada de modo natural pela idade" a fim de que possa "amar desde logo com a plenitude e fartura que deseja" (Chb 2,36).

Não é para se admirar que o amor, tornando-se mais forte, mais profundo, mais transformante, enfraqueça as resistências da matéria e, com ímpetos sempre mais decididos e mais plenos de vida eterna, um dia, acabe por romper "a tela" do corpo.

Também a doença ajuda; concorre para reduzir as energias, para debilitar o corpo, facilitando a sua separação da alma investida por ímpetos, sempre mais fortes, de puro amor.

A causa da morte não é, de fato, a doença, mas o amor; embora, aparentemente, se dê o contrário.

"Convém saber, a tal respeito, - escreve frei João - que a morte natural das almas que chegam a este estado, embora seja semelhante às outras quanto à própria condição da morte, é, todavia, muito diferente quanto à causa e modo; porque se os outros morrem em consequências de enfermidade ou velhice, esses de que tratamos aqui, morrendo efetivamente de doença ou em idade avançada, não é isso, todavia, que lhes tira a vida, e sim algum ímpeto e encontro de amor muito mais subido que os antecedentes, e, bem mais poderoso e eficaz, pois consegue romper a tela, e arrebatar a jóia da alma. Assim, a morte de semelhantes almas é suavíssima e dulcíssima, muito mais do que lhes foi a vida espiritual inteira; morrem com os mais subidos ímpetos e deliciosos encontros de amor, assemelhando-se ao cisne que canta mais suavemente quando vai morrer" (Chb 1,30).

Aos 7 de dezembro, vigília da Imaculada, frei João já sabe, por revelãção divina, o dia e a hora de sua morte. No dia 13, declara que está vivendo o seu último dia e avisa que à meia-noite irá cantar Matinas no Paraíso.

Às nove horas da noite, diz aos religiosos que estão em sua cela irem dormir, ele os chamará no momento oportuno. Fá-los retornar antes da meia-noite porque é chegada a hora. Exorta-os a viver com autenticidade o espírito da Reforma; agradece-lhes, como pode, tudo o que fizeram por ele; pede ao prior a caridade de ser sepultado com o hábito que traz; recita com eles, alternadamente, alguns salmos; pede que lhe lheiam alguns versículos do Cântico dos Cânticos; beija ternamente o crucifixo que tem entre as mãos e depois.. só se percebe que ele está morto devido à grande luz que se espalha no quarto e ao perfume, suavíssimo, que se esparge. Naquele momento se fez um grande silêncio; todos escutam o sino que chama para a oração da meia-noite. Era 14 de dezembro de 1591.

No momento da morte, é "que se vêm concentrar todas as riquezas da alma, e os rios de amor que estão nela vão perder-se no oceano, já tão largos e caudalosos que parecem mares. Aqui se juntam os seus tesouros do primeiro ao último, para acompanharem o junto que parte e vai para seu reino; ouvem-se desde as extremidades da terra, conforme diz Isaías, os louvores que são a glória do justo" (Chb1,30)

Uma morte de amor? Sim. E a mais bela.

Pedro Paulo di Beardino, Itinerário Espiritual de São João da Cruz
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