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Descrição da morte de S. João da Cruz por Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein)



No dia 13 de dezembro, perguntou qual o dia da semana: ao saber que era uma sexta-feira, ao correr do dia indagou por várias vezes a hora, pois esperava rezar Matinhas no Céu. Nesse último dia de sua vida, manteve-se ainda mais quieto e recolhido que antes. Permaneceu, em geral, de olhos fechados; ao abri-los, fixava-os amorosamente no crucifixo de cobre.

Às cinco horas, o Santo prorrompe numa exclamação de júbilo: "Como sou feliz! Sem o merecer, esta noite estarei no Céu". Logo mais dirige-se ao prior e a Fernando Diaz: "Padre, tenha a bondade de avisar a família de dom Fernando que não o espere, pois há de passar esta noite comigo". Agora, pede a unção dos enfermos e a recebe com grande piedade; ele próprio responde às orações do sacerdote. A seus pedidos instantes, trazem mais uma vez à sua presença o Santíssimo Sacramento para que João o adore. Passa esses instantes em carinhosa conversa com o Deus escondido, e ao despedir-se diz: "Senhor não mais te verei com meus olhos corporais".

Padre Antônio de Jesus e alguns outros padres idosos queriam passar a noite em vigília com ele, mas João não o permitiu: haveria de chamá-los ao chegar a hora.

Ao soarem nove horas, disse avidamente: "Ainda me restam três horas; incolatus meus prolongatus est" (Sl 119,5). Padre Sebastião ainda o ouviu dizer que Deus lhe atendera três pedidos, para seu consolo: não morrer como superior; morrer em lugar onde fosse desconhecido; morrer após muitos sofrimentos. Depois, jaz sossegado, imerso em oração e com semblante sereno. Já o consideram falecido. Mas ele volta a si e beija os pés de seu Crucifixo. Às dez horas ouve-se o toque dos sinos; João pergunta o motivo e lhe respondem que são os religiosos indo a Matinas. "E eu", responde por sua vez o Santo, "pela misericórdia de Deus, devo ir ao Céu, para rezá-la com Nossa Senhora". Por volta de onze e meia, pede que se chamem os padres. Entram cerca de catorze ou quinze frades, que se preparavam para Matinas; penduram à parede suas lanternas e perguntam ao Santo como estava passando. João segura-se a uma corda que pende do teto e procura erguer-se. "Padres", disse "não querem rezar o De profundis? Sinto-me muito bem." Ao dizer isso tinha o semblante "muito calmo, belo e alegre", relata o subprior, Fernando da Mãe de Deus. Ele próprio entoa o salmo; os demais respondem. Assim foram recitados "não sei quantos salmos", diz Francisco García. Eram os salmos penitenciais, que precedem a encomendação da alma. Se esta encomendação seguiu imediatamente os salmos, ou em que ponto João interrompeu a oração é questão aberta, pois os relatos não dão informação unânime. Com o tempo, João mostrou-se cansado e teve de reclinar-se. Ainda manifestou o desejo de que alguém lhe lesse algo do Cântico dos Cânticos, e o prior o fez. "Que pérolas!" exclamou o agonizante. Foi esse cântico do amor dos amores que o acompanhou a vida inteira.

Torna o Santo a indagar pela hora; ainda não dera meia-noite. "A essa hora, estarei diante de Deus para rezar Matinas". Padre Antônio lembrou-o do que fizera pela Reforma, quer no início, quer mais tarde, como superior. Responde o Santo: "Deus sabe o que foi feito. Mas não é nisso que me apoiarei, nosso Pai: agora não é hora disso. Espero ser salvo pelos méritos do sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo".

Os confrades pedem-lhe a bênção e ele a dá, por ordem do provincial, e os exorta a serem religiosos realmente obedientes e perfeitos.

Pouco antes da meia-noite, entrega seu "Santo Cristo" a um dos circunstantes, provavelmente Francisco Diego; pois queria ter livres ambas mãos, a fim de compor seu corpo para a partida. Mas logo retomou a cruz e com palavras carinhosas despediu-se do Crucificado, como antes o fizeram com o Salvador Eucarístico.

Soam na torre doze badaladas, e o agonizante diz: "Irmão Diego, dê o sinal do toque de Matinas, pois já é hora". Sai Francisco Garcia, o sineiro da semana. João ouve o soar do sino e, com o Crucifixo na mão, exclama: "In manus tuas, Domine, commendo spiritum meum". Um olhar de despedida aos presentes, um último beijo no Crucificado, e ei-lo diante do trono de Deus para cantar matinas com os coros celestes.

Morrer assim não manifesta algo da liberdade divina, com a qual Jesus Cristo incinou sua cabeça, no alto da cruz? E assim como naquela Sexta-Feira Maior, sinais e milagres indicaram que era verdadeiramente o Filho de Deus quem morria na cruz, assim também o Céu testemunhou a entrada do servo bom e fiel na alegria do Senhor.

Entre nove e dez horas da noite, quando, a pedido do Santo, a maior parte dos conventuais se recolhera, frei Francisco García aproximou-se da cabeceira do leito e se colocou entre a cama e a parede, a fim de rezar o terço. Havia-lhe ocorrido a idéia de que poderia ter a alegria de ver algo daquilo que o Santo iria contemplar. E de repente, durante a recitação dos salmos, viu brilhar uma esfera luminosa entre o teto e a extremidade do leito. Tanta claridade espalhava que ofuscava as catorze ou quinze lanternas dos frades e as cinco velas do altar. E no momento em que o Santo expirou, Frei Diego, que o sustentava em seus braços, viu subitamente o leito circuncidado de clarão luminoso: "Reluzia como o sol e a lua; as luzes do altar e das duas velas que se achavam pareciam cobertas de nuvens e não emitiam luz". Somente então Diego  notou que o Santo que trazia nos braços já estava sem vida. "Em meio a essa luz, nosso Pai entrou no Céu", disse aos presentes. Quando, auxiliado por frei Francisco e Frei Mateus, compôs os santos despojos, deles exalava um aroma perfumado.

Edith Stein, a Ciência da Cruz.
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