Dietrich Von Hildebrand
A fim de ressaltar o interesse genuíno que devemos ter pelo próximo como pessoa individual, interpretam eles [os progressistas]: “O que fizestes ao menor de meus irmãos, a mim o fizestes”, como significando que o único caminho para encontrar a Cristo é o nosso próximo. O amor, que é uma resposta ao próprio Cristo, ao único infinitamente santo, à Epifania de Deus, é substituído pelo amor ao próximo. Resulta daí que o amor de Deus é relegado a segundo plano, se é que não desaparece de todo. É claro que essa interpretação introduz o erro mais extremo, pois ignora o primeiro mandamento, amar a Deus e, afinal de contas, a este cabe a primazia. Se é errado restringir o amor exclusivamente a Deus e negar o real amor ao próximo, muito pior ainda será excluir o amor direto a Deus.
Ademais, a declaração de Cristo de que O encontramos em cada próximo, perde por completo seu significado, se não entendermos que, com essas palavras, Cristo nos torna possível o amor ao próximo, mesmo que não tenhamos nenhuma razão para amá-lo pelo seu caráter. O fato de encontrarmos Cristo em cada próximo põe em relevo que todo homem é precioso, criado que é à semelhança de Deus. Isso, porém, claramente pressupõe, como base do amor ao próximo, o amor direto ao próprio Cristo, que em Sua Sagrada Humanidade é infinitamente amável.
A caridade é impossível sem o amor direto a Deus, em e através de Cristo, sem a relação Eu-Tu, de comunhão com Cristo. Não se poderá insistir nunca bastante sobre isso. Somente nesta relação Eu-Tu com Jesus Cristo pode, em nossas almas, nascer a caridade. Nos santos manifesta-se isto plenamente. Do momento em que acreditamos que o amor do próximo é o único caminho para o amor de Deus, substituímos a caridade em toda gloriosa e sublime santidade, por mero amor filantrópico ao próximo, que, de fato, mal se pode chamar de amor, e sim apenas de pálida benevolência.
Seria igualmente perverso alegar que o versículo de São João – “Aquele que diz “eu amo a Deus” e odeia seu irmão é um mentiroso” – significa que se ama a Deus simplesmente pelo fato de amar ao próximo.
A verdade é que o amor ao próximo é, no caso, um teste do nosso verdadeiro amor a Deus, em Cristo e através dEle. Implica tal teste duas verdades: primeiramente, que o amor do próximo é uma conseqüência do amor a Deus; segundo, que o amor ao próximo se fundamenta do amor a Cristo e, assim, necessariamente o pressupõe.
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