É do Filho que nos devemos aproximar, se quisermos acalmar a sede que atormenta a nossa alma. Ele vem ao nosso encontro e é ele próprio que nos pede de beber, tanto na sombra do recolhimento como ao sol ardente dos nossos dias. E assim que a alma começa a satisfazer o desejo divino, ouve estas palavras: "Se tu conheceras o dom de Deus e quem é que te diz: 'Dá-me de beber', tu certamente lhe pedirias e Ele te daria uma água viva" (Jo IV,10),
Oferta divina, na verdade! Basta confessarmos a nossa indigência para recebermos a dádiva da misericórdia. O coração divino conhece todas as nossas necessidades e faz chegar até nós a onda da sua caridade: convida-nos a beber sem reservas para refrescar e curar a nossa alma. Esta água que brota das profundezas divinas torna-nos cada vez mais permeáveis à sua pureza e mais aptos para receber a sua abundância, à medida que vamos matando a nossa sede. "Se alguém tem sede, venha a mim e beba. O que crê em mim, do seu coração correrão rios de água viva" (Jo VII, 37-38).
Libertarmo-nos dos laços egoístas e parciais que nos prendem às criaturas, desprendermos o nosso coração do que é temporal e efêmero, eis as condições para o nosso despertar espiritual. O conhecimento angustiante da nossa miséria arranca-nos às satisfações de uma hora para nos fazer desejar ardentemente a verdade eterna, a plenitude divina. "Aquele que beber da água que eu lhe der, nunca mais terá sede, mas a água que eu lhe der virá a ser nele uma nascente de água a jorrar para a vida eterna" (Jo IV, 14).
Se bebermos, pois, na fonte do paraíso interior, nunca mais procuraremos matar a sede nos regatos da terra, para que o Salvador não se queixe de nós: "Eles abandonaram-me, a mim que sou a fonte viva, para cavarem cisternas - cisternas cheias de fendas que não conservam a água (cisternas dissipatas)" (Jer II, 13). Estejamos atentos a esta hora da graça, que, quem sabe, pode soar pela última vez. "Se ouvirdes hoje a sua voz, não endureçais o vosso coração" (Heb IV, 7).
Um Monge Cartuxo, Intimidade com Deus.
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