Na imagem, morte de S. Jerônimo |
Se você acha que já amou algo ou alguém violentamente, leia a poesia abaixo, e veja o que é amor e o que é violência...
"Por sobre aquelas correntes
que em Babilônia encontrava,
ali me sentei chorando,
ali a terra regava,
recordando-me de ti,
ó Sião, a quem amava.
Tua lembrança era doce,
e com ela mais chorava.
Deixei os trajos de festa,
os de trabalho tomava,
pendurei nos salgueirais
a música que levava,
colocando-a na esperança
daquilo que em ti esperava.
Ali me feriu o amor,
e o coração me arrancava.
Disse-lhe que me matasse,
pois de tal sorte chagava.
Metia-me em seu fogo,
sabendo que me abrasava,
desculpando a mariposa
que no fogo se acabava.
Estava-me consumindo,
e só em ti respirava.
Em mim, por ti, eu morria,
e por ti ressuscitava;
porque a lembrança de ti
dava vida e a tirava.
Finava-me por finar-me
e a vida me matava,
porque ela perseverando,
de ver-te, a mim, me privava.
Mofavam os estrangeiros
entre os quais cativo estava.
Pensava como não viam
que o gozo os enganava.
Pediam-me eles cantares
dos que em Sião eu cantava:
- Canta de Sião um hino;
p'ra vermos como soava.
- Dizei, como em terra alheia
onde por Sião chorava
cantarei eu a alegria
que em Sião desfrutava?
No olvido a deixaria
se em terra alheia gozava.
Com meu palato se junte
a língua com que falava,
se de ti eu me olvidar
na terra onde morava.
Sião, pelos verdes ramos
que Babilônia me dava
Olvide-me a minha destra,
coisa que em ti mais amava,
se de ti não me lembrar
no que mais gosto me dava,
e se eu tivesse festa
e sem ti a festejava.
Ó filha de Babilônia,
Mísera e desventurada!
Bem-aventurado era
Aquele em quem confiava,
que te há de dar o castigo
que da tua mão levava;
e juntará os seus filhos
e a mim, que em ti chorava,
à pedra, que era Cristo,
pelo qual eu te deixava."
S. João da Cruz, Toledo, Cárcere, 1578.
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