Hoje nós teremos, aqui na cidade, um mutirão de confissões. Acredito que isto esteja acontecendo em várias paróquias distribuídas pelo mundo. O motivo desta ênfase é que vamos nos aproximando da grande Semana Santa, este tempo forte da Igreja em que celebramos dois grandes mistérios: o da morte do Senhor e o da Sua Ressurreição. Pela morte, Cristo nos redime; pela sua Ressurreição, Ele nos dá a maior festa da Igreja. Em um momento, estamos profundamente inclinados e pesarosos pelo sofrimento do Esposo. Em outro, extasiamos pelo reencontro com Ele.
Eu gostaria, então, de tecer algumas reflexões e fazer uma apologia à prática da confissão. Este é um assunto facilmente aceito pelos católicos que se mantêm fiéis à tradição e, para estes, o máximo que eu poderia oferecer seriam algumas reflexões piedosas. Porém, como nem todos que visitam este espaço são, assim, convictos da doutrina católica, creio que um artigo desta natureza possa fazer muito bem.
Antes de iniciar, quero evocar apenas dois fatos. Um se deu em alguns meses atrás, em que, conversando com uma adolescente, ao mesmo tempo em que ela manifestava o interesse em comungar, relutava contra a prática da confissão. Dizia ela: "não há sentido em confessar os meus pecados a um homem pecador como eu". Como eu respondesse: "Mas não é a um homem que confessamos, é ao próprio Cristo", a resposta veio rápida: "Nada disso! É um homem comum". Como eu ainda insistisse, veio uma resposta mais exaltada: "cada um com sua opinião." Eu relutei: "Não é opinião" e fui cortado asperamente com um imperativo: "E vamos deixar dessa conversa!". Por fim, eu dei uma modesta gargalhada...
O outro fato aconteceu precisamente ontem. Já depois da aula, esperando o ônibus pra vir embora, eu conversava com uma garota que, então, me perguntou: "quando é que vai ter a confissão comunitária?" Ao ouvir isto, eu pensei que ela tinha usado um termo inadequado para se referir à confissão auricular, mas com vários padres à disposição. Então respondi: "não é exatamente confissão comunitária, é individual, mas há vários padres e, em geral, a igreja fica cheia. Mas a confissão é individual. Vai ser amanhã." Ela agradeceu, mas insistiu no ponto: "é que uma vez eu fui a uma confissão em que o padre ficava fazendo umas perguntas pra todo mundo...". Respondi: "isso é invenção desse povo das CEB's e semelhantes que gostam de brincar com o sagrado. Mas isso não existe e a Igreja não aprova. Isso aí não perdoa pecados..." e a menina ficou surpresa. Tinham passado esse 'gato com lebre' nela. Depois de eu explicar um pouco sobre o que acontece na confissão, ela me testemunhou: "Acho que vou me confessar amanhã; a sua conversa me acendeu o desejo", e eu, obviamente, dei um "Deo Gratias", rsrs, mas em português, pra não espantar.. kk
Estes dois episódios reais falam da má formação de grande parte dos católicos de hoje. Imaginem o tanto de sacrilégios cometidos por quem se acha, porque "acordou bem", digno de comungar, se bem que nem se lembre de quando foi a última confissão. E, enquanto isso, do que estão falando nas catequeses e turmas de crisma? Estão cantando loas a Chico Mendes e ensinando lorotas relacionadas à planta num sei que, à mata num sei de onde e ao aquecimento num sei das quantas. E segue atualíssima a frase do livro de Oséias: "Meu povo se perde por falta de conhecimento".
É, então, importantíssimo que tenhamos uma formação correta sobre a Fé, sobre os mistérios que ela traz, sobre a dinâmica da vida espiritual. E não nos enganemos: este nosso apostolado, tão modesto, tem grande alcance. Aqueles que podem estudar, estudem! Deus fará com que sejam instrumentos da Sua graça.
Tratemos, então, deste sacramento da misericórdia.
Primeiramente, convém saber que ele tem fundamento na Sagrada Escritura. Diz Jesus: "Dou-vos autoridade para perdoar percados. A quem os perdoardes, eles serão perdoados; a quem os retiverdes, eles serão retidos". É bíblico; não tem nem o que questionar. Depois, não foi a qualquer um que Jesus disse isso; não foi no seu Sermão das Bem Aventuranças, nem quando multiplicou os pães. Foi na intimidade com os Apóstolos. Portanto, há uma elite espiritual, que são os que recebem o sacramento da ordem, a quem é dado o poder objetivo de, na pessoa de Cristo, perdoar pecados. Falando mais claramente: somente padres e bispos católicos têm esse poder.
Depois, porque convém contar o que se fez de errado? Para compreender isto, entendamos, primeiro, o que é o pecado. Ele é sempre um fruto da soberba, uma preferência pela própria satisfação egoísta em detrimento do bem, da verdade, enfim, de Deus. O soberbo é aquele que desobedece a Deus para satisfazer o próprio desejo. Todo pecado tem essa mesma raiz, desde Adão. O primeiro mandamento ordena amar a Deus sobre todas as coisas. Quando pecamos, amamos mais a nós mesmos do que a Deus. A soberba, então, se insurge contra Deus. E Deus resiste aos soberbos. Ora, qual é o oposto da soberba? A humildade. Deus revela sua graça aos humildes. E o que é a humildade? É o retorno da ordem, é quando o homem percebe a própria pequenez diante de Deus; é quando percebe que o seu prazer não deve ser mais importante do que a vontade divina; em suma, é uma reta consideração das coisas. O humilde é aquele que sabe se desprezar para amar a Deus. O seu centro está em Deus, assim como Jesus disse: "onde está o teu tesouro, aí está o teu coração".
Quando notamos a grandeza divina e, em contraste, a nossa pequenez, parece absurdo que, em algum momento, nós tenhamos nos insurgido contra Deus. A soberba é ridícula. Desta constação, surge o desejo de humilhar-se diante d'Ele, que é tão bom. Confessar-se miserável e humilhar-se é o modo de mortificar aquele amor-próprio, de atacar-lhe o âmago e de ferir-lhe de morte. É só quando nos esvaziamos deste modo que podemos estar aptos, novamente, para receber a graça de Deus. É o que diz Sto Antônio de Pádua: "é próprio do coração verdadeiramente contrito humilhar-se em tudo e reputar-se cão morto e pulga viva. Portanto o penitente por tal espírito de arrependimento é conduzido ao deserto da confissão."
No entanto, não basta uma atitude subjetiva. O que perdemos com o pecado foi algo real: o dom da graça, a virtude teologal da caridade, sem a qual ninguém agrada a Deus. Daí que, uma vez bem dispostos interiormente para a humilhação, devemos recorrer a alguém que possa, objetivamente, restituir aquilo que perdemos. E essa pessoa, conforme vimos, é o padre católico. Confessando, então, os nosso pecados, humilhando-nos diante do sacerdote, somos perdoados e, como afirmou Jesus, este perdão é confirmado no céu. De novo, somos o pecador que se converteu e que alegrou o céu. Isto, embora se dê sem nenhum alarde, é, na verdade, grandiosíssimo e é muito real.
Também Jesus, quando nasceu, não teve festa e, no entanto, nascia o homem mais importante de todos. Quando Ele morreu, não havia brilho e, no entanto, o Calvário redimiu o mundo. Creio que já está na hora de notarmos que esta discrição é um traço bastante característico de Nosso Senhor.
Aí alguns perguntam: "mas isso é muito confortável! Eu peco já pensando que vou me confessar e, depois, eu já fico planejando pecar e me confessar". Uma vez uma protestante me perguntou algo assim, pois ela dizia que até hoje não entendia isso. De fato, isso parece uma sacanagem e esta pode ser a dúvida de muita gente. Acontece, porém, que para a confissão ser válida, alguns requisitos são necessários. Quai são estes requisitos?
Primeiro: uma absoluta sinceridade. Poderíamos até dizer que este é o único, pois é ele que inspira os demais. No entanto, como somos cheios de pretextos para pecar, esclareçamos os pormenores. Para uma boa confissão, primeiro se deve fazer o exame de consciência. A Igreja recomenda que esta prática seja constante, e não apenas um estágio prévio para as confissões que muito escassamente fazemos. É muito conveniente que, todas as noites, antes de dormir, façamos um breve exame de consciência, que consiste em percorrer, com a memória, o que fizemos durante o dia, sondando as nossas intenções e a natureza mesma das nossas ações. Antes da confissão, porém, devemos fazer um mais aprofundado. Se já tivermos a prática do exame diário, não nos será difícil saber dos nossos delitos, uma vez que já estaremos acostumados a considerá-los. Isto ajuda no conhecimento de nós mesmos, donde provém a humildade que é base para todas as demais virtudes.
Depois do exame, devemos detestar aqueles pecados que cometemos e tomar a resolução séria de não voltar a cometê-los, adquirindo a disposição de nos afastarmos de toda ocasião que possa promovê-los.
Após estes pontos, é necessário decidir-se seriamente a contar todos os pecados mortais ao padre, por mais que eles sejam constrangedores. Lembremos que um padre não pode quebrar o sigilo da confissão, sob pena de excomunhão. Diz o código de direito canônico: "Guarde-se, portanto, muito bem o confessor de descobrir, no mais mínimo, ao pecador, nem por palavra, nem por qualquer sinal, nem de qualquer outra forma e por nenhuma causa". Além disto, os padres já são acostumados em escutar os nossos podres e não é comum que se escandalizem. Portanto, o ponto essencial da confissão é uma sinceridade cristalina.
Uma vez contados todos os nossos pecados graves (os veniais também podem ser contados e até é conveniente que se o faça), ouviremos algum conselho do sacerdote, a absolvição e a penitência que nos será dada e que deve ser cumprida ciosamente. Pronto! Ao sair do confessionário, saímos como Lázaro que foi ressuscitado pelo Senhor. Foram desatados os nossos pés, o que nos permite retomar o caminho. Foram desatadas as nossas mãos, o que nos permite fazer atos sobrenaturais. E foi desatado o nosso rosto, o que nos permite enxergar e expressar a nossa verdadeira identidade.
Outra dúvida corrente: com que frequência o cristão deve se confessar? Alguns dizem: "mas a Igreja só pede uma vez ao ano, com comunhão na Páscoa". Mas isto é o mínimo do mínimo e acredito - não tenho certeza - que isto foi escrito deste modo tendo em vista aquelas pessoas que moram distantes, nas zonas rurais, e que costumam vir à cidade para a Santa Missa somente de tempos em tempos. A Igreja não abre mão deles.
No entanto, nós que podemos estar assiduamente na Santa Missa - se possível diariamente - não podemos aplicar isso a nós. Devemos ter uma constante com a confissão. Mesmo se não pecamos mortalmente, convém se confessar num prazo estabelecido. Há pessoas que se confessam, pelo menos, mensalmente. Há outros que se confessam semanalmente. E aqui convém esclarecer duas coisas:
Se eu me confessei ontem, mas voltei a cometer pecado mortal, eu já não posso comungar. Para voltar a receber o Corpo de Cristo, é preciso voltar à confissão. Não estamos brincando de um faz de conta! Estas realidades e efeitos sacramentais são muito reais. Quem ganha um grande prêmio e, minutos depois, o perde, fica sem o prêmio, não importa que somente alguns minutos se tenham passado desde que o recebeu. O que não podemos é planejar pecar, porque isso é falta de sinceridade e, como já dito, se alguém vai com algum plano semelhante pra um confessionário, a confissão é inválida! Depois, é preciso, como diz Jesus, "vigiar e orar". Estamos numa guerra; quem pensar que pode vencer pela própria força vai ser facilmente derrotado. Por isto a oração! E por isto a vigilância, para que não nos exponhamos, sem motivo, a ocasiões perigosas para a alma.
Mas, e quanto aos que não pecam mortalmente e, ainda assim, se confessam? Aquele que se confessa com frequência tem de dar conta da sua vida, das suas intenções, dos seus projetos ao confessor, apontando as suas falhas, por pequenas que sejam. Isto, como dissemos, aumenta o conhecimento de si mesmo, favorece a humildade e mortifica a soberba, reafirma a disposição em seguir a Cristo, impede ou dificulta o cometimento de pecados graves pela proximidade das confissões, apaga os vícios, acende as virtudes e infunde maior graça na alma. Algumas pessoas, até padres, dirão que confessar-se toda semana é brincar com o sacramento. É possível, se a pessoa não for bem orientada. Mas, o que estes padres diriam se começássemos a citar inúmeros santos que se confessavam até diariamente? Então, não nos deixemos enganar! Estes argumentos falsos apenas pretendem satisfazer o comodismo, seja daquele que se confessa, seja daquele que confessa. E o que está em jogo, aí, é a vida da alma. Confessemo-nos, portanto!
Que a Virgem Maria imprima em nossas almas as disposições necessárias para uma boa confissão, a fim de que, passando pela morte de Cristo, alcancemos, com Ele, a vida eterna!
Ad Iesum Per Mariam
Fábio.
sigilo na confissão !?!?!
ResponderExcluire como fazer se o padre de sua paroquia só atende confissão 20 minutos antes da Missa Dominical no banco da igreja com pessoas passando toda hora e sentando no banco atras onde o padre atende a confissão
Isso porque tem dois confessionarios com grades e fechados que agora virou deposito de produtos de limpeza.
Aqui em casa eu e meus pais estamos varios anos sem confissão sacramental porque é uma tremenda indiscrição atender a confissão no banco da igreja minutos antes de começar a missa.
porque a igreja acabou com a pratica do confessionario COM GRADES ???
não existe sigilo. quem sentar no banco de tras escuta tudo.
Depois o Papa Bento reclama que as pessoas estão afastadas do sacramento da confissão.
Caro R.P.S
ResponderExcluirEu entendo como deve ser constrangedora a situação, mas te digo que é muito semelhante à daqui. Também, infelizmente, não temos confessionário, sendo sempre num local de improviso que se efetua o sacramento.
No entanto, pode-se falar com o padre, ou marcar outro horário. Não sei se é o caso aí, mas não seria possível? Depois, eu não sei onde moras; mas, se der, vai em outra paróquia, ou numa cidade próxima. O sacramento é tão precioso que vale muito a pena lutar por ele.
Ficar vários anos sem confissão é mesmo grave. Não tem jeito mesmo de falar com o padre?
Por fim, é preciso esclarecer que a Igreja não acabou com a prática do confessionário com grades. Ainda umas três semanas, eu me confessei de joelhos e num confessionário com grades.
O que existe é muito padre que tem uma aversão por qualquer coisa que lembre a tradição. Aliás, é determinação da Santa Igreja, pedido do Papa, que em toda igreja haja um confessionário, destes de sempre, bem à mostra para relembrar aos fiéis o dever da confissão. Se não há, é desobediência.
Enfim, rezo pra que vc encontre um modo de solucionar este seu problema.
Em Jesus por Maria
Fábio.