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Um sonho estranho e cômico.

Estávamos nos preparando para tocar numa Santa Missa. Ela ia acontecer num convento, um lugar meio separado da cidade, se bem que este ponto só me foi percebido posteriormente. Como os sonhos fazem mudanças e não justificam, fundindo informações, não me houve nenhum estranhamento pelo fato de que, de início, parecesse-me que estávamos na igreja. Mas a coisa toda, de resto, deu-se de modo totalmente descabido. Não sei bem o que foi, mas a música de entrada me causou algum tipo de indignação. O negócio, porém, me pareceu absurdo de todo quando, na leitura do salmo, um sujeito abandona o lecionário, põe-se à frente do ambão, e começa a discursar longamente sobre alguma coisa pretensamente relacionada ao texto, mas ornamentada com suas “profundíssimas” meditações pessoais. Algum tipo de contextualização histórico-social acrescida a alguma chave hermenêutica de leitura. 

Desisti de tocar e saí, convencido de que eu não deveria estar ali. O padre, então, me parecia também desgostoso; fazia uns sinais, mas era totalmente ignorado. Devia ser daqueles tipos em que o respeito humano é mais forte do que o zelo litúrgico; devia manusear o chicote, mas se limitava a uns gestos tímidos. Deste tipo, há muitos. Como eu já adiantei, foi nesta altura que saí e só agora é que eu venho a notar que estávamos no convento, mas não numa capela, e sim numa sala de aula. O altar parecia ser improvisado: um daqueles birôs de professor. Eu fiquei ao longe, donde, por uma janela central, se podia ver o que acontecia no lugar. E, a partir de então, qualquer semelhança forçada com a liturgia católica sumira. As músicas, absurdas, porém assemelhadas às propostas de inculturação da CNBB. De longe, uma garota, com roupas curtíssimas, rebolava e rodava ao lado do altar, como se estivesse num ambiente carnavalesco. Tudo se orientava em função da descontração. Parecia-me aquelas confraternizações escolares de fim de ano. 

Foi nesse ponto que eu retornei ao recinto. O padre, sentado, ostentava uma expressão grave. Era provavelmente um medroso. Discordava, mas não se pronunciava. Os demais estavam sentados no fundo da sala. A ornamentação do lugar mudara bastante desde que eu tinha saído. Umas espécies de varetas enormes, em que se destacavam as de cor vermelha, percorriam a sala em diagonal ascendente. Nesta altura, eu portava algo nas mãos e entrei na sala. Minha fala foi: “licença professor... quer dizer... padre..” O que eu segurava caiu-me das mãos e rolou um pouco forçando-me a aproximar-me dos que me viam ao fundo. Segui falando algumas coisas, dentre as quais eu me recordo destas: “desculpem-me o modo desajeitado. É que nunca estive num lugar assim. Isso tudo me é muito novo. Porque, de certo, esta não é a Liturgia tal qual Roma a prescreve.” Neste ponto, eu fitava o padre e falava com mais vagar, assegurando-me de que cada sílaba fosse bem compreendida, e as pronunciava em tom de desafio. Por fim, já retirando-me da sala, despedi-me: “sua bênção, professor...” 

Apenas ouvi algumas reclamações que provinham do fundo da sala, onde uma voz familiar me censurava a intolerância, a visão retrógrada e a obediência cega à hierarquia romana. Eu temi que o padre me perseguisse, mas ele ficou simplesmente quieto. Obviamente, era uma marionete nas mãos dos leigos lá atrás. 

Como eu saíra da sala com esse receio de que o padre viesse tomar satisfações, fui correndo e, agora sim, eu via de modo mais panorâmico o ambiente do convento. Fui descendo uma estreita ladeira, uma estradinha no meio de um campo com plantinhas à volta. Vi-me sem camisa, se bem que a segurava nas mãos. Deparei-me com algumas religiosas, de hábito, que levavam crianças para algum lugar na direção de onde eu viera. Cobri improvisadamente a minha parcial nudez com a blusa que trazia nas mãos e, após ter passado pelas pequenas, perdi perdão a Deus por aquela imprudência. Terminei por encontrar a porta de saída onde, sentindo-me agora confortável, reencontrei alguns dos meus. Contei o ocorrido, provocando o riso de uns e vi um seminarista conhecido meu, bastante tradicional, que, então, assumira uma posição curiosa: estava em posição de flexão de braço, mas com apenas um deles no chão, apoiado sobre o punho fechado. A outra mão ia atrás das costas. Talvez estivesse se mortificando pelo que houvera escutado. 

Numa sala ao lado, porém, uns possíveis organizadores do evento escolar que eu havia presenciado falavam entre si de suas influências litúrgico-artísticas. Escutei um curiosa mistura: Dom Helder Câmara e Santo Daime. Realmente, uma combinação e tanto. Rsrs...

Fábio
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2 comentários:

  1. Salve Maria,
    tudo bem Fabio, eu quando li esse seu sonho fico pensando, você teve um sonho profetico e talvez leve na brincadeira eu acredito em voce pois eu sei que isso esta acontecendo e você não imagina minha tristeza desses acontecimentos e fico pensando nas pessoas e em mim mesmo pois sou um pecador.
    Sabe Fabio eu amo a tradiçao e sei que isso hoje em dia e uma bobagem para a maioria dos catolicos.
    Queria dizer que esta vendo a apostagia e que sim os final dos tempos esta proximo e que tudo isso tera que acontecer.
    Vamos continuar na fé.
    Fique com Deus meu irmão

    ResponderExcluir
  2. Caríssimo Benício,

    Depois de um tempo refletindo, me veio essa possibilidade de que fosse algo profético, rsrs... Mas não tenho certeza. Seja como for, uma coisa inesperada neste sonho foi a reação do padre. Fosse ele uma mera descrição, eu o poria como atuante obstinado das novidades. Mas, no sonho, ele parecia discordar, mas não ousava intervir.

    Fico a pensar se não é justamente isso o que acontece a vários padres. Na sua solidão, estão temerosos...

    Rezemos pelos sacerdotes, pois não é fácil ser um padre, sobretudo nestes dias turbulentos.

    Abraço.

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