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Catolicismo X "Cristianismo" Meramente Moral

Ser "bonzinho", educado, tolerante... suficiente?

Dia a dia, é comum que os católicos se deparem com certas críticas à sua religião ou ao seu modo de entender a religião. Dentre as inúmeras ressalvas que outros costumam fazer, está a de que a religião deveria nos tornar pessoas mais tolerantes e mais gentis, ao contrário do que acontece com certos meios tradicionais em que se notam grupos de sujeitos irredutíveis e de resposta rápida e um tanto ríspida quando o assunto diz respeito à sua Fé ou Moral.

Por causa disso, não poucas pessoas, até sinceras e bem intencionadas, ficam um tanto confusas e lhes parece estarem assistindo a qualquer coisa de contraditória e avessa ao que seja o cristianismo. Esta impressão negativa tende a despertar neles uma reação de repúdio e, então, alguns passam a julgar terem visto claros sinais de hipocrisia. Mas.. será possível que estes sujeitos - os católicos - sejam todos assim tão superficiais ao ponto de sequer entenderem direito o Evangelho de Jesus, que prega a mansidão, o amor, a fraternidade, etc, etc..., eles que vivem tanto na Igreja?

Primeiro, convém iniciar a tentativa de resolução deste problema dizendo que o que, na verdade, difere os dois grupos - o de católicos e o de observadores espantados - é a concepção do que seja o Cristianismo ou de Quem seja Jesus. É natural que, enquanto homens, ajamos segundo as nossas concepções. A ação sempre segue a compreensão. Se algumas pessoas julgam que ser cristão é tão somente ser bonzinho e educado, isto se dá porque elas aderiram a uma certa compreensão do cristianismo. Cumpre, porém, pesquisar se tal concepção seja a correta.

Primeiramente, mostremos que, por trás das pretensões aparentemente modestas dos que tendem a reduzir o Cristianismo a um moralismo agradável a todos, existe, na verdade, um senso de auto-suficiência e um orgulho disfarçado. E por quê? Vejamos.

O catolicismo tradicional - que, convenhamos, é o único sustentável, por razões infinitamente lógicas e evidentes - só pode ser compreensível se for observado no contexto do sobrenatural, da presença constante de algo sobre-humano, supra-natural. Há um contínuo influxo da Graça divina sobre a Igreja e é isto o que permite que os homens possam efetivamente caminhar rumo à santidade, fazendo atos sobrenaturais e, por recorrerem continuamente aos sacramentos como à Fonte de toda e qualquer virtude, é-lhes possível anelar à perfeição sem soberba, pois sabem que ela só se atinge porque Deus lha concede. "Senhor meu, como a Ti elevará o homem que criaste se Tu não o levantares?", já dizia S. João da Cruz. Isto tudo significa que um autêntico catolicismo só se torna praticável a partir de um senso agudo da nossa própria fraqueza e da necessidade absoluta que temos de um auxílio constante de um Outro, detentor exclusivo da bondade, para que os nossos atos sejam, de fato, algo bons. "Só Deus é bom". Tudo isto quer apenas significar que a humildade ou a pobreza interior é um dos primeiros pressupostos do cristianismo real. É o "sem Mim nada podeis fazer" visto de um modo claro e levado a sério.

Se é necessário esta contínua intervenção do sagrado na vida católica, torna-se, também, possível e efetivo um conhecimento íntimo deste Interventor. Se estamos incessantemente a Ele recorrendo, nada mais natural que O venhamos a conhecer gradativamente, na proporção da nossa busca e na generosidade da nossa entrega. Isto significa que, conforme O conheçamos, conheceremos a Verdade, pois Ele é a verdade. E é a verdade o que fundamenta todo e qualquer valor. De nada vale eu fazer campanhas e me doar e me cansar e me desgastar no intuito de promover uma ilusão. De nada vale eu aplicar à minha própria vida o meu conceito de virtude se, objetivamente, a virtude real não se afina com esta minha concepção. E o mais fácil, hoje em dia, é que vivamos segundo as nossas suposições mui subjetivas e que surgem, quase sempre, de movimentos da alma em função dos nossos próprios interesses.

Os que pregam ser o cristianismo apenas um caminho gradativo para se tornar cada vez mais agradável e aceitável às pessoas estão, primeiramente, fazendo uma abstração do próprio Cristo, reduzindo-O a um mero exemplo; um dentre outros tantos, como Ghandi, Buddha, etc, etc. Jesus deixa de ter uma influência efetiva sobre a vida do sujeito ou, se continua a ter, esta se reduz apenas a certos apoios morais ou a certas inspirações sentimentais e auto-afirmativas; qualquer coisa de muito genérico. Além disto, se ser cristão fosse somente desenvolver algumas virtudes morais, teria sido realmente necessário que Ele morresse por nós? Não existiram homens, desde o início do mundo, que eram capazes de nos espantar por sua eminente integridade de vida? Tode este equívoco somente advoga em favor de uma auto-suficiência humana, pois ser educado está ao meu alcance. Cumprimentar a todos e respeitar todas as diferenças sem complicar a minha vida na defesa de algo absoluto e exclusivo é o que há de mais fácil. Passar a vida assim, escorregando aqui e ali, conforme as conveniências, e ainda vender a imagem de ser um sujeito mente aberta e respeitoso de todas as diferenças é, convenhamos, muito confortável. Não preciso ser católico para fazer isto. Basta-me aderir a qualquer coisa que absolutize a ética, ou a qualquer movimento romântico demagógico moderno, existente aos montes por aí, cujo discurso esteja cheio de lugares comuns e faça corar pela mediocridade.

Os católicos sabem que tudo isto existe. Porém, sabem também que nada disso vale. E mais: sabem que, sem Deus, sequer são capazes de um ato verdadeiramente generoso, desprendido e honesto. Encenar é-nos possível, mas não nos é permitido e nem nos interessa. Temos sede da verdade e é a Ela que acorremos. Não é que n'Ele nos escoremos como que para completar o que já fazíamos de bom; é que, sem Ele, não há bondade possível; não existe bondade alternativa e, portanto, a verdadeira fonte de toda e qualquer virtude é Ele. Tudo, por isso, deve estar submetido à Verdade. E isto não é tão difícil de notar. Se perguntarmos a alguém: "o que é preferível? Ser bom ou ser ruim?", por certo, uma pessoa honesta dirá: "ser bom". Então, poderíamos retrucar: "é verdade que ser bom é preferível?". O que fizemos aqui foi somente mostrar que, qualquer que seja a afirmação, ela pretende ser verdade e não teria valor se estivesse dissociada da verdade. Portanto, não é capricho dos cristãos esse apego extremo à verdade; é que eles sabem que, por mais agradável que seja o que quer que seja a quem quer que seja, nada tem valor se é falso.

Humildade e verdade são, pois, os grandes pressupostos do Cristianismo. Conviria, então, saber o que são, de fato, a humildade e a Verdade. Não será pretensioso que os cristãos se afirmem de posse da Verdade absoluta?  Será possível conhecer esta Verdade absoluta? Será, ainda, compatível com a humildade esta certa atitude de altivez e excessiva segurança com que eles, os cristãos, partem em defesa do que crêem? Tentarei responder isto num próximo artigo.
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