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A Virtude como "Ultimum Potentiae" - Josef Pieper


Josef Pieper

O último grande mestre da cristandade ocidental ainda unificada, Tomás de Aquino, designou a virtude humana como "ultimum potentiae", ou, em linguagem de hoje, o máximo daquilo que uma pessoa pode ser.

É evidente que a concepção expressa nessa breve sentença nem sequer permite o aparecimento das famigeradas deformações que, de diversos modos, costumamos associar à palavra virtude. Nem vale a pena falar muito a respeito delas. O que sim vale a pena é procurar compreender de forma mais exata alguns elementos que a definição de Tomás traz consigo e, à primeira vista, talvez também esconda consigo.

Quem, por exemplo, fala do ultimum e, portanto, do máximo, já pensou ao mesmo tempo que há também um penúltimo e um primeiro. Com isso, afirma-se também algo a respeito do homem: que a sua vida quotidiana se situa em meio a esses diferentes graus de realização, procurando, é certo, o máximo do poder ser, mas não necessariamente atingindo-o. Que o ser humano é, no seu núcleo mais profundo, um ser-que-se-torna; em todo caso, não é meramente um ser conformado desta ou daquela maneira, não é algo pura e estaticamente existente mas sim sujeito do acontecer, realidade dinâmica, como aliás todo o Cosmos.

Naturalmente, isto não é uma concepção especificamente cristã. O poeta grego Píndaro já há mais de dois mil anos formulou-a na famosa frase: "Torna-te aquilo que és" - com o que, na realidade, se diz, (e parece tão estranho) que nós ainda não somos o que entretanto somos. Disto também está convencida a sabedoria teológica do cristianismo, quando reconhece verdadeira virtude somente naquele que realiza o máximo do que lhe é possível ser.

Já algo especificamente cristão se encontra na resposta à pergunta sobre como se deveria pensar o primeiro começo desse processo de auto-realização: assume-se claramente que o início já vem dado previamente. O homem - quando com liberdade faz o bem - não está pondo os pés pela primeira vez num caminho ainda não trilhado ou sequer aberto; o agir moral (isto é, todo agir humano baseado em decisão e responsabilidade) vem a ser antes uma continuação, um levar adiante pelo caminho algo já começado e que se encontra em processo.

Muito antes de se decidir livremente, já há algo que orienta o homem para seu alvo; como uma seta disparada ele já está a caminho. A Teologia fala aqui de um querer natural, de um impulso que nos é inerente por natureza e que seguimos quando fazemos o bem. No entanto, essa afirmação a respeito da natureza humana e do querer natural é apenas algo precário e, por assim dizer, provisório. Somente a compreendemos bem, quando entendemos "natureza humana" como aquilo que o homem é em função da Criação. No ato de Criação, foi o homem posto por Deus a caminho, num caminho ao final do qual está aquele máximo que pode chamar-se, em sentido pleno, Virtude: a realização do projeto divino incorporado à criatura.

Quem pensa nisto consegue entrever a exigência quase inatingível que reside no conceito de virtude. E, talvez, torne-se-lhe claro, de repente, aquela certeira sentença um tanto enigmática do Novo Testamento: "Ninguém é bom senão só Deus" (Mc 10,18).

Joseph Pieper In: LAUAND, Jean. Linguagem e Ética; Ensaios. Curitiba: Editora Universitária Champagnat, 1989.
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