"Vai encarar, seu fresco?" |
Nós chegamos, meus caros, a um tempo particularmente difícil. A Igreja, durante estes mais de dois mil anos, nunca enfrentou uma crise semelhante à que agora se apresenta. Alguns podem afirmar que, em outros momentos, ela já foi mais violentamente perseguida; sim, é fato. Mas nunca houve, dentro dela, confusão que sequer se assemelhasse à que agora nós presenciamos. Os próprios católicos vão desorientados neste processo. E aqui eu não faço referências apenas ao clero - que, porém, dá mostras claras de despreparo -, mas aos católicos distribuídos em todos os setores da sociedade. É claro que, também, não quero generalizar. Existem, óbvio, vários que buscam ser fiéis, dia a dia, ao ensino de sempre da Santa Madre Igreja; isto implica uma constante formação a respeito da sua doutrina e uma contínua vivência dos sacramentos, em especial da Comunhão e da Confissão.
Diz o livro de Oséias que o povo de Deus se perde por falta de conhecimento. No início do livro "Do liberalismo à Apostasia", Mons. Marcel Lefebvre dizia aos seminaristas que, se eles não lessem e estudassem continuamente, acabariam por se tornar traidores. De fato, chegamos a um momento em que devemos, tanto quanto possamos - e eu diria até que ainda mais que antes - estudar, literalmente estudar o que a Igreja ensina. Antigamente, ouvir um padre e seguir-lhe os conselhos era garantia de trilhar caminho correto. Hoje, porém, é preciso procurar bastante e com muito critério para que encontremos um padre absolutamente confiável no seu discurso. É triste dizê-lo, mas é a verdade.
Quando até os mestres não conhecem e não divulgam a verdade, tem-se aí um grande problema. Tenho dito frequentemente que somente nos dias de hoje é que podemos contemplar o triste espetáculo de pessoas que se dizem católicas, mas que não conhecem os rudimentos da fé. Há sujeitos que passam por "retiros" de finais de semana e que, porque fizeram quaisquer experiências emocionais subjetivas, saem crentes de que se tornaram fiéis católicos de elite. E, mesmo depois disso, muitos permanecem totalmente desinteressados com relação aos dogmas da Igreja e à sua doutrina. O que se vê é uma espécie estranha de fideísmo que, em geral, não é suficiente para dar constância a ninguém, nem fazê-lo católico.
De outro lado, temos visto os supostos pais de almas, padres e bispos, fazendo todo tipo de agitações, de militâncias ideológicas em favor da água, das plantas, dos dinossauros, dos cogumelos, dos jacarés que são transformados em bolsas, etc., mas que, infelizmente, não se preocupam com as almas. Cai-se num tosco fenomenismo e utilitarismo e despreza-se a metafísica, o caráter espiritual da liturgia e a prevalência da contemplação sobre a ação. Cada dia mais, seminaristas escrevem livros de cunho esquerdista e elaboram teses em defesa das filosofias mais estapafúrdias; isso enquanto ignoram solenemente o tomismo, filosofia na qual deveriam ser bem formados. Resultado? Depois da ordenação, ouvimos homilias sem substância ou festival de disparates, catequeses de gosto revolucionário, rebeldia travestida de religião, instrumentalização da fé em função do erro.
Em todo este contexto, nós devemos encarar o desafio de manter a fidelidade à Igreja, de estudar a sua doutrina, de não querermos nos unir ao círculo dos zombadores que brincam com a liturgia e pervertem, nas catequeses, as almas das crianças, ensinando-lhes o erro e fazendo-as duvidar das verdades mais sublimes da Fé. E neste meio, se nos decidirmos pelo legítimo catolicismo, teremos de enfrentar as perseguições - por mais sutis ou dissimuladas que sejam - os olhares atravessados, e receberemos, por certo, diversos títulos nada honrosos, calúnias e julgamentos de intenção.
Mas aí é que está, também, a aventura amorosa que Nosso Senhor nos concede passar. Os Apóstolos Pedro e João agradeciam a Deus por terem sido dignos de serem açoitados por amor do Seu nome. Aproveitemos, portanto, a ocasião, e ardamos de zelo pelo Senhor. Para tal, repito, estudemos. Há muitas pessoas que andam por aí desanimadas da Fé simplesmente porque foram enganadas e passaram a duvidar da autenticidade da Igreja. Estudem e retomarão o vigor! Conheçam esta beleza que é a Igreja e serão almas de elite. Aprofundem-se na sua doutrina, na sua filosofia, nos seus argumentos morais, e perceberão que não há razão para pusilanimidade, para vergonha, para constrangimento. Ao contrário! Armem-se e à guerra!
É preciso alastrar, de novo, o amor à Verdade, à luz, à bondade, à retidão. Chega de teorias desvairadas que tratam os homens como se fossem todos bestas covardes e lamacentas. Não! Amor à grandeza, como dizia o saudoso Prof. Orlando Fedeli! Combatamos o bom combate e inflamemos os que estão ao nosso redor! Que percebam, pela integridade da nossa vida, as chispas daquele fogo a arder na nossa alma e possam ter um vislumbre daqueles olhos que convidam: "vem, tu também, e segue-me".
O que a Igreja necessita urgentemente - e toda a criação geme em dores de parto por isso - é que os cristãos larguem essa capa de culpa sem fundamento, esse véu mentiroso de inferioridade, e barrem, em nome de Cristo e armados pela Sua Cruz, essa algazarra da iniquidade e essa zombaria com Deus e com as almas. Dizia Nosso Senhor: "infeliz daquele para quem eu for pedra de escândalo e ai daquele sobre quem esta pedra cair". No combate, a Verdade é invencível e todo aquele que contra ela se levanta, haverá de quebrar-se. Armemo-nos do vigor de novos cruzados, pois a nós não foi dado um espírito de timidez, mas de audácia.
Não pensemos, caríssimos, que tudo isto é palavreado e conversa de efeito. Essas hipocrisias são características dos inimigos de Nosso Senhor, que precisam encontrar todo tipo de mentiras para fazer aceitar, a contra gosto, os seus devaneios. Cristo é a verdade e Ele, por Si mesmo, é belo e forte, e atrai, e converte. Dizia S. Paulo que cuidava para não usar de artifícios humanos, para não desvirtuar a Cruz de Cristo. Basta que sejamos transparentes e límpidos como a água cristalina! Para tal, cuidemos da pureza das nossas almas e de estar alimentados com o pão do céu, "o pão seco dos fortes" como o chamou Sta Edith Stein, o maná que cai sobre o deserto do exílio, o alimento que permite vencer o mundo.
Medo, dor, prazeres egoístas e providos de traições, apegos e desejos de honrarias, tudo isto abandona-se, despreza-se e, como diz S. Paulo, tem-se a preço de nada diante de Cristo e do Seu conhecimento. Não cabem na porta estreita e impedem a verdadeira alegria, que somente surge na nudez e na gratuidade do amor. Se nos despirmos convenientemente dessas coisas, adquiriremos uma agilidade tal que, antes do primeiro movimento dos inimigos da verdade, já os teremos fulminado. Sigamos, caríssimos! Força! Ninguém combate sozinho. Os católicos vivem, já, na comunhão dos santos. São muitos os que lutam no seu anonimato e na ordinariedade de suas vidas. E nada disso é fantasia. Convençamo-nos de Cristo, entusiasmemo-nos por Ele, defendamos a Sua Igreja, e imitemos a disposição de Sto Atanásio: "Se o mundo for contra a verdade, Atanásio será contra o mundo". E jamais esqueçamos Aquele que disse: "Coragem, eu venci o mundo". É por Ele que lutamos.
Rezemos muito e sejamos fiéis católicos íntegros, sem capitular em nenhum ponto da Fé. Isso é de absoluta importância. Ninguém pense ser forte sem Cristo. Sem Ele, nada podemos. Não basta encenar. A via é íngreme mesmo... Mas tudo podemos nAquele que nos fortalece. N'Ele, vencemos o mundo. É preciso se entusiasmar de novo por Nosso Senhor e deixar essas frescuras de medinhos e culpinhas. O passado da Igreja é glorioso! Amemos o bem, a verdade, a beleza, a grandeza, a pureza! E o façamos em plena luz do dia!
Ad Iesum Per Mariam
Fábio
Gostei muito do que vc argumentou. parabéns! Me dá mais força ainda de seguir e não desistir!
ResponderExcluirFirmes e fortes nesta batalha!! ♥