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Monismo - Exposição e Refutação Sumária

Discípulo de Haeckel demonstrando método "científico" de produção da substância primeira que originaria todas as formas de vida por via de evolução.
Pe. Cauly

I. Exposição do sistema monista

Já, por diversas vezes, em nosso estudo sobre a origem e a formação do universo, achamo-nos em frente da teoria moderna, pseudo-científica e materialista do Monismo. Encontramo-la de novo na questão que nos ocupa, a origem e o desenvolvimento da vida; vê-la-emos ainda quando tratarmos da Antropologia. Não poderíamos por demais denunciar e aviltar este sistema de filosofia ateística, de materialismo absoluto, que se apresenta sob a capa da ciência, sem outro alvo do que contradizer a fé.

A teoria monística foi adotada por Strauss, em nome do criticismo teológico; por Spencer e sua escola, em nome do positivismo filosófico e sociológico; foi especialmente erigida em doutrina, em nome das ciências naturais, por Haeckel e seus discípulos, os quais quereriam fazer dela a base única da moral. "Estas novas formas do ateísmo, escreveu Scherer, são das mais perturbadoras e mais pérfidas; chegam tanto melhor a seu fim que para ele se dirigem de modo indireto e disfarçado".

Daremos o resumo do ensino de Haeckel sobre a origem e o desenvolvimento da vida.

I. Os fenômenos da vida se reduzem, em última análise, aos fenômenos que a física e a química estudam na matéria bruta e são suscetíveis de uma explicação mecânica.

II. Os seres vivos tiram a sua origem da matéria bruta por geração espontânea.

III. Não há distinção essencial entre as plantas e os animais.

IV. Há duas espécies de conhecimentos: o conhecimento consciente que existe só nos animais possuindo um sistema nervoso centralizado, e o conhecimento inconsciente que pertence a todo o ser vivo, a toda a célula, até a todo o átomo.

V. A seleção natural que chega para explicar a existência das espécies vivas.

A discussão de todas essas afirmações de Haeckel seria longa: limitemo-nos a pôr em destaque a sua evidente inépcia. Todo este sistema é desprovido de base. Como, por exemplo, assimilar e confundir os fenômenos da vida com as reações físicas e químicas? Onde estão as experiências científicas que fizeram passar a matéria bruta ao estado de vida vegetal ou animal? - Evidentemente o autor do sistema, no ponto de partida, voltará à sua monera, organismo dos mais simples que conheçamos ou que se possam conceber, corpúsculo informe, substância homogênea, mole, albuminosa ou mucosa, sem estrutura, sem órgãos, dotada contudo de propriedades vitais. Por geração espontânea, dela sairá o ser vivo, planta ou animal, homem enfim, por seleção natural, razão suprema explicando a variedade de todas as espécies vivas. Mas essa monera primitiva, onde é que a encontrou?

Será preciso lembrar a história do célebre Bathybius? Em 1868, um sábio professor inglês, Huxley, assinalou, pela primeira vez, uma espécie de muco amorfo, tirado das profundezas do mar, uma alam gelatinosa que podia ser uma produção espontânea do protoplasma, o elemento primordial e universal dos organismos vivos; deu-lhe o nome de Bathybius - que vive nas profundezas - e dedicou-o a seu amigo Haeckel.Este fez dele a base de sua teoria moderna da evolução. Onze anos mais tarde, 1879, este mesmo professor Huxley assistia ao Congresso da Associação Britânica, reunido em Scheffield. O Presidente, no seu discurso de abertura, teve a infeliz idéia de lembrar a descoberta do Bathybius; Huxley pediu a palavra. Foi para zombar do famoso protoplasma e da importância que lhe tinham dado, para confessar que não era mais do que um precipitado gelatinoso de sulfato de cálcio. Milne-Edwards, numa sessão do Instituto, a 15 de outubro de 1882, resumindo os estudos feitos sobre o Bathybus, declarou que não passava de um agregado de mucosidades provindo de esponjas e zoófitos, e que o Bathybius devia voltar para o nada.

Para acabar com o princípio de Haecel, acrescentemos que, mesmo no caso de admitir a existência da mais notável das moneras, dotada de todas as propriedades vitais, ficaria ainda por provar que ela é o produto da geração espontânea.

Que dizer da seleção natural que alguns acham suficiente para explicar a existência das espécies vivas? É verdade que precedentemente Haeckel nos disse que o animal possuindo um sistema nervoso centralizado, tem o conhecimento consciente, e todo o ser vivo, toda a célula, todo o átomo, um conhecimento inconsciente. É ainda verdade que alhures atribui-lhe a memória. Mas todas essas informações ficam sem provas, e o sistema inteiro é tudo quanto há de mais arbitrário e coloca em plena luz a insuficiência do saber de Haeckel, assim como da sua filosofia.

II. Refutação Sumária

Haeckel, como já dissemos, empreendeu dar a seu sistema um caráter científico. Apesar da má sorte do Bathybus, o mestre achou discípulos fiéis que acolheram com entusiasmo as suas estranhas elucubrações. Hoje, a teoria carbogenia - átomo de carbono, que, por uma paixão irresistível pelos átomos de hidrogênio, oxigênio e azoto, se uniu com eles de modo a formar as matérias albuminoides, princípios do protoplasma, da célula e da vida, - a teoria carbogenia, dizemos nós, é um dos dogmas intangíveis do monismo; não querem mais que esse átomo material animado seja uma simples hipótese. Um sábio professor da Sorbonne, o senhor Le Dantec declara que é um fato provado. Apesar desta afirmação, persistimos em repelir o sistema monista, na sua expressão mais completa, como anticientífico, não sendo mais do que uma hipótese e uma teoria em oposição flagrante com o método experimental; e também como antimetafísica, sendo contrário à evidência racional.

1º O monismo é anti-científico:

São sábios que no-lo dizem; são químicos que, à unanimidade, protestam e declaram irrealizáveis e sem esperança as sínteses orgânicas que deveriam ser um caminho certo para a síntese da célula. Recolhamos estas palavras de Berthelot, que parecem escritas para qualificar o método de Haeckel e seus partidários: "A ciência positiva não investiga nem a causa primeira, nem o fim das coisas; mas procede estabelecendo fatos pela observação e pela experiência... Compara-os, deles tira relações, isto é, fatos mais gerais, que são, por sua vez, verificados pela observação e pela experiência e é isto a única garantia de realidade dos primeiros. É a série dessas relações que constitui a ciência positiva. A ciência ideal (a pseudo-ciência) tem por base as opiniões individuais e a liberdade" (Berthelot, La Science idéale et la science positive, Carta a Renan)

O Dr. C. Robin, nas elucubrações de Haeckel, não vê "mais do que uma acumulação poética de probabilidades sem provas, e de explicações sedutoras sem demonstrações". Vacherot vai mais longe: "Mesmo quando a ciência, diz ele, chegaria a explicar-nos, em todos os pormenores, como se devem ter efetuado todas aquelas metamorfoses, apoiando-se sobre um conjunto de fatos autênticos e decisivos, a última palavra da questão ficaria ainda por dizer. A evolução, pela qual se teria conseguido explicar todas as coisas, ficaria ela mesma um mistério inexplicável com os princípios da escola mecanicista. Como pôde a evolução tirar da matéria seres que têm propriedades completamente diferentes? Como pôde efetuar milagres de efeitos sem causas?... É aqui que aparece a impotência das ciências físicas e naturais, e se faz sentir a imperiosa necessidade de procurar alhures a solução do enigma.

2º O monismo haeckeliano é anti-racional.

Encerra, com efeito, uma contradição metafísica. A criação, sendo substituída pelas "fases evolutivas da matéria eterna", achamo-nos em frente da dificuldade inextrincável, inerente à eternidade da matéria e do movimento. Não se concebe uma vida que se cria, um movimento que se imprime de si mesmo, uma força especial inerente à matéria e tornando-a capaz de produzir a harmonia, a ordem incomparável que reina no mundo.

Esta ordem será espontânea, atribuível à única ação das forças físico-químicas, como por exemplo as cristalizações, a superposição dos líquidos segundo a sua densidade? Não se manifesta, pelo contrário, intencional, em vista de alcançar um fim: tais como o mecanismo dos céus, o movimento das estações, a germinação da planta, o organismo dos animais...? Desta ordem evidente, admirável, quem é o autor? O acaso ou um feliz acontecimento mecânico Que espírito razoável poderia pretender tal?

Para furtar-se à conclusão que se impõe, a intervenção de uma Inteligência infinita e todo-poderosa, Spinoza, no século XVII, fundava a teoria do determinismo da natureza; Kant, no século XVIII, falava da manifestação necessária, imanente, inconsciente, de uma harmonia primitiva, indestrutível; Haeckel reduz os fenômenos da vida a um puro mecanismo; Le Dantec, no seu livro do Ateísmo, julga explicar a harmonia universal por um incoercível impulso para a ordem.  Pobre razão humana! Pobre ciência contemporânea que não tem outras respostas a nos oferecer, nestes graves problemas, senão uma causalidade imanente e uma finalidade inconsciente! Como se não voltasse sempre para ser resolvido o eterno problema: uma série infinita de fenômenos precisa de princípio; um movimento perpétuo, de ponto de partida; a passagem à vida, de uma causa; a ordem e a harmonia, de razão superior e ordenadora.

Em presença do mesmo Haeckel, Virchow, seu mestre, pouco suspeito de tendências místicas, emitia esta conclusão: "Não se conhece um só fato positivo que estabeleça que uma massa inorgânica, mesmo da Sociedade Carbono e Cia, se tenha jamais transformado em massa orgânica. Contudo, se eu não quiser acreditar num Criador especial, tenho que recorrer à geração espontânea: a coisa fica evidente: tertium non datur. Não admito a criação e quero uma explicação da origem da vida; emito uma primeira tese, mas, de bom ou de mau grado, preciso chegar à segunda: ergo, admito a geração espontânea. Mas dela não temos prova alguma; ninguém viu uma produção de matéria orgânica; não são os teólogos, são os sábios que a repelem. É preciso pois escolher entre a geração espontânea e a criação; para falar com franqueza, nós sábios (materialistas), teríamos certa preferência pela geração espontânea. Ah! se pudesse surgir uma demonstração qualquer... Mas, julgo que temos ainda que esperar...; com o Bathybius desapareceu mais uma vez a esperança de uma demonstração" (Revue scientifique, 8 de Dez. de 1887)

Pe. Cauly, Curso de Instrução Religiosa, Tomo IV, Apologética Cristã
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