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"O velho é melhor..."


"E ninguém, depois de beber vinho velho, deseja vinho novo; porque diz: o velho é melhor”.  (Luc 5, 39)

É notória a luta que hoje se trava entre os católicos tradicionais (isto sim, uma redundância) e os modernistas de toda conta. Na verdade, os subgrupos são tantos e de matizes tão variados que é grandemente complicado defini-los com precisão. Mas poderíamos, sem descer aos pormenores, dividi-los em dois grupos: aqueles que valorizam a Tradição da Igreja e reconhecem a sua importância fundamental, e aqueles outros que consideram que, a partir do Conc. Vaticano II, a Igreja despertou de um longo sono e se abriu a uma suposta primavera, rejeitando tantos séculos de obscurantismo. Sem precisarmos tratar as coisas com muito rigor, poderíamos dizer tranquilamente que o segundo grupo não é católico, pois nega verdades fundamentais da Fé.

Pois bem. Embora isto seja tão evidente para quem conheça minimamente a Igreja, o fato é que as supostas autoridades da Igreja no Brasil ou se debandaram para o segundo grupo ou ficaram num híbrido estranho e contraditório entre as duas posições, seja pela indecisão, seja pela tentativa de elaborar uma síntese hegeliana; ou, ainda, mantiveram uma certa convicção do valor da tradição, mas assumiram uma postura tímida e politicamente correta demais que os impede de elevar a voz ou de se pronunciar com clareza a respeito dos erros que pululam no nosso Brasil. Lembro-me, agora, do excelente texto do Pe. Leonardo Castellani "A Covardia é pecado". É difícil supor um caso em que ela seja mais grave do que o do terreno da Fé. Claro que há poucas exceções de bispos e padres corajosos... são poucas, mas há.

No entanto, como Deus nunca deixa a sua Igreja desamparada, é próprio do nosso tempo o fato de que muita gente, depois de uma aparente vitória do modernismo e da Teologia da Libertação, vem redescobrindo o frescor da Tradição. Saturados de um discurso por demais ideológico e que claramente se afasta da proposta do Evangelho, já são várias as pessoas que reencontraram água cristalina nos documentos antigos da Igreja, na voz dos Papas, nos autores espirituais, nos santos doutores, enfim, nesta Tradição bimilenar da qual podemos absolutamente nos orgulhar.

Eu posso me dizer um desses casos. Sempre me pareceu que algo ia estranho na fé contemporânea. Ela me soava claramente distinta da de antigamente. Eu sequer conhecia direito esse mundo belíssimo da Tradição Católica, a não ser por alguns livros de santos que eu sempre li. 

Mas, quem passa a se debruçar sobre estas questões, mesmo que tente disfarçar, vai percebendo que coisas estranhas aconteceram. As mudanças foram, por demais, radicais. Aquilo que vinha sendo guardado com tanto carinho e por tanto tempo viu-se, de repente, reputado como caduco. Não quero insinuar que, em todo este percurso anterior, tudo fora um mar de rosas. Nem eu vivi aquela época, nem os documentos a respeito se referem a esta suposta absoluta harmonia empírea. Não. Mas, o que agora vivemos e tem sido promovido por certas autoridades religiosas, se comparado com a clareza e o rigor de antes, se mostra como um negócio caótico. E muita coisa mudou sem que tivesse uma razão clara para isso.

Um caso muito especial é, por exemplo, o da Santa Missa no rito antigo. Embora seja a Missa que santificou a maior parte dos santos católicos, ela simplesmente, sem nenhum motivo que sequer se aproximasse de uma razão justa, foi proibida, e isso quando pesava sobre qualquer possível mudança substancial na sua estrutura uma grave proibição do Papa Pio V.

Sobre isso, então, temos pelo menos dois problemas: primeiramente, ordenou-se uma proibição ilícita do rito tridentino, quando Pio V havia decretado, explicitamente, o que segue:

"Além disso, em virtude de Nossa Autoridade Apostólica, pelo teor da presente Bula, concedemos e damos o indulto seguinte: que, doravante, para cantar ou rezar a Missa em qualquer Igreja, se possa, sem restrição seguir este Missal com permissão e poder de usá-lo livre e licitamente, sem nenhum escrúpulo de consciência e sem que se possa incorrer em nenhuma pena, sentença e censura, e isto para sempre." (Quo Primum Tempore, n. 8)

Em segundo lugar, efetuou-se uma modificação radical da estrutura da Santa Missa, quando o mesmo papa supracitado havia, na mesma bula, determinado o seguinte:

"a presente Bula não poderá jamais, em tempo algum, ser revogada nem modificada, mas permanecerá sempre firme e válida, em toda a sua força." (n. 9) e concluía do seguinte modo: "Se alguém, contudo, tiver a audácia de atentar contra estas disposições, saiba que incorrerá na indignação de Deus Todo-poderoso e de seus bemaventurados Apóstolos Pedro e Paulo."

Ou seja, o negócio é muito sério! Se é verdade que contra fatos não há argumentos, o que se seguiu depois da reforma radical que se empreendeu e se tomou como o surgimento de uma nova Igreja foi um grande arrefecimento da Fé! Muitos apostataram; outros tantos, ávidos de assumir as novidades das novas interpretações, foram aos poucos escasseando a frequência nos sacramentos ou simplesmente considerando-os desnecessários. O zelo litúrgico desapareceu em muitos lugares. O grande e glorioso patrimônio da música sacra foi posto de lado em favor das novas composições, muitas delas de uma mediocridade tal que, se comparadas às tradicionais, seriam capazes de corar os anjos de vergonha. 

Abandonou-se irrefletidamente um imenso tesouro cultivado por séculos e aderiu-se irresponsavelmente aos inúmeros sofismas de um humanismo mesquinho, um antropocentrismo idólatra, relativizando, para tal, a verdade pela qual deram a vida tantos homens santos da Igreja. 

Mas, graças a Deus, muitas pessoas, velhos e jovens, voltam, nestes dias, a ter contato com o espírito absolutamente único do catolicismo tradicional. Voltam a se deparar com um rigor teológico e filosófico, com uma coerência doutrinária tão maior, que torna-se necessário fazer um esforço a fim de conciliar o antes e o agora e afirmar que é a mesma Igreja. Daí a tentação do sedevacantismo e de outras tantas correntes radicais. De fato, para quem se detém a olhar tudo isso com sinceridade, é impossível não constatar que algo não foi bem. Algo de muito errado se produziu e a literatura que o comprova é extensíssima.

E todo esse texto que vou pondo agora me foi motivado por apenas uma frase do Evangelho de hoje, onde Nosso Senhor diz: "E ninguém, depois de beber vinho velho, deseja vinho novo; porque diz: o velho é melhor”.  (Luc 5, 39)

De fato. De fato. De fato. Quem experimenta a vida pulsante da Tradição Católica verá com clareza que, comparadas a ela, as inovações e tentativas de uma fé imanente aparecem como cadáveres, estruturas sem vida, sem espírito; um mero constructo do engenho humano, um simulacro da Fé.

Por fim, um recado à CNBB: "custa-me dizê-lo, mas, não me submeto à vossa brincadeira irresponsável!"

Que a Virgem Maria nos ajude porque, sinceramente, precisamos muito.

Fábio
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