Tradutor / Translator


English French German Spain Italian Dutch Russian Portuguese Japanese Korean Arabic Chinese Simplified

Preguiça - O que é?


Existe uma definição muito simples de preguiça, com a qual é fácil concordar: "a resistência ao esforço e ao sacrifício". Com efeito, o preguiçoso não tem um ideal de perfeição esforçada, mas de facilidade. Mais do que o bem, move-o a vantagem. Podendo seguir uma linha cômoda, não se esforçará por subir a encosta íngreme do aprimoramento, da perfeição.

O preguiçoso contentar-se-á com "despachar" as tarefas e responsabilidades, sem se importar em deixá-las acabadas. E, à força de se poupar egoisticamente ao esforço, chegará a tornar-se um virtuose na arte lamentável de contornar deveres, de "dar um jeito" - como se diz popularmente -  de outras tantas manhas da moleza.

Será que percebemos o vírus oculto, que anda emboscado por trás dessas atitudes e comportamentos? É, nem mais nem menos, a fuga do ideal - da perfeição -, a deserção do amor. E essa constatação é importante para penetrarmos no âmago da preguiça como pecado capital.

Há duas formas possíveis de situar-se perante a vida e as suas responsabilidades:

- pode-se encará-la como uma missão - grande, bela, árdua -, que Deus propõe a cada um de seus filhos, e pela qual vale a pena gastar as melhores energias;

- ou pode-se encará-la com a mentalidade do aproveitador. Para este, o que importa é passar bem, usufruir os prazeres da vida, fazer o imprescindível e não complicar-se. Assemelha-se a um mata-borrão que, quanto mais absorve - quanto mais a sua alma se embebe de egoísmo -, mas se estraga. É característica desses tais "o comodismo, a falta de vibração, que impelem a procurar o mais fácil, o mais agradável, o caminho aparentemente mais curto, mesmo à custa de concessões no caminho da fidelidade a Deus"1.

Com muito acerto escreveu um filósofo cristão dos nossos dias que "a preguiça significa, antes de mais nada, que o homem renuncia à altura da sua dignidade: não quer ser aquilo que Deus quer que seja"2. E, nesta dolorosa renúncia, se destrói.

Desistir dos ideais é desistir de sermos "nós mesmos". Porque cada um de nós só pode realizar-se de verdade na medida em que luta com ajustar-se àquilo que Deus lhe propõe com meta na vida. Ou porventura pensamos que Deus, Pai e Amor, Sabedoria infinita, nos lançou no mundo às cegas, sem ter em sua mente um plano para nós?

Furtar-se a este plano de Deus, que é a sua Vontade e o nosso Ideal, é a mais radical das frustrações. Na vida, o que nos desencanta não são as pequenas ambições insatisfeitas, - no plano do sucesso e do dinheiro, por exemplo -, mas os ideais abandonados ou atraiçoados. Deus ofereceu-nos uma oportunidade, e nós a recusamos. Quantas vezes Eu quis - dizia Cristo com lágrimas, contemplando Jerusalém - e tu não quiseste! (Mt 23, 37) 
**

1- Josemaria Escrivá. É Cristo que passa, Quadrante, São Paulo, 1975, pág. 6;
2- Josef Pieper, in: Leclercq-Pieper, De la vida serena, 3ª ed., Rialp, Madrid, 1965, pág. 75.

Francisco Faus. A Preguiça, Quadrante, 2ª ed., São Paulo, 1993, pp. 5-7.
Blog Widget by LinkWithin

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fique à vontade para comentar. Mas, se for criticar, atenha-se aos argumentos. Pax.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...