Eu tenho acompanhado, por alto, toda esta manifestação de certos blogueiros e demais protagonistas da internet, sobretudo do meio tradicional, por ocasião da viagem do Papa à Alemanha e do conteúdo do seu discurso a respeito de Lutero. Não quero aqui entrar nos pormenores dos termos utilizados, mas espanta-me a extrema má disposição dos católicos em reconhecer, por mínima que seja, alguma qualidade em Bento XVI. E isto, meus caros, não me parece uma coisa católica. Sinto muito...
Eu, particularmente, também estranhei esta ida do Papa à sua terra natal para "celebrar" aniversário das teses de Lutero. Realmente, me pareceu uma atitude disparatada, tendo em vista o grande mal que o herege, pai da reforma, causou, não só na Igreja, mas em todo o mundo, sendo a sua herança um oceano de equívocos e problemas. De fato, não há o que celebrar...
Porém, não se deveria esperar, tampouco, que o Chefe da Igreja Católica, indo ter com os luteranos de seu país, demonstrasse uma extrema antipatia e usasse de seu discurso para, sem mais, descer ofensas a Lutero, chamando-o de libertino, de beberrão, de escravo dos vícios, etc. Será que, pelo fato de o Papa não ter decidido agir de tal modo, ele peca contra a tradição? Mas que lógica é essa?! Seriam os católicos um bando de bárbaros? Pelo que me consta, Nosso Senhor nunca nos brindou com semelhantes pérolas de polidez. E não me venham falar do episódio do chicote no templo que parece ter se tornado o pretexto pra toda e qualquer cavalice. Não tem nada a ver.
É óbvio que o Papa deveria ser, no mínimo, cordial. Ao tratar com os Luteranos, que são também almas imortais e chamadas por Deus à conversão, é óbvio que Bento XVI não poderia falar sem mais dos excessos de Lutero. Qual a única possibilidade de um diálogo? Encontrar qualquer coisa na vida do heresiarca que pudesse ser objeto de discussão. E tal fez Bento XVI. Daí a "canonizar" Lutero vai uma distância infinita. Estas apreciações precipitadas de tantos blogueiros, "guardas da tradição", "paladinos da ortodoxia" soam muito mais como afetações caprichosas, escondidas sob a capa de santidade, diante de alguém que parece ter mil vezes maior bom senso e que, talvez também por isto, foi escolhido por Deus para ser sucessor de S. Pedro.
Não defendo nenhum tipo de relativismo ou modernização da verdade. Apelar pra esse tipo de argumento é ir contra a sinceridade. Porém, o que quero destacar é essa extrema falta de abertura de certos católicos a Sua Santidade Bento XVI, este costume estranho de ver com maus olhos tudo quanto ele faz, de resgatar textos e pronunciamentos de não sei quem, de não sei quando, e que fazem duvidar da sua retidão doutrinal ou - Deus nos livre - da sua pureza de intenção. Não é que aquilo que Bento XVI diz ou faz não possa ser criticado. Claro que pode... Mas, mesmo assim, não esqueçam que estamos diante do Papa, legítimo e gloriosamente reinante, e que devemos, no mínimo, respeito. Estamos diante da doce sombra de Cristo na terra. Tem gente por aí que exorbita, talvez supondo-se um espírito privilegiado na história da salvação, responsável por advertir o Papa e toda a Igreja segundo a sua parcial visão dos fatos e segundo os poucos instrumentos de que dispõe, dentre os quais uns apressados conceitos de filosofia, umas dezenas de frases de papas antigos, uns poucos amigos que concordam com o seu pensamento, e o privilégio sem dúvida único e raro de possuir um computador em casa.
Quanto à visita, lembremos que os próprios protestantes ficaram decepcionados com Bento XVI. Ele não está contra nós. Há pontos criticáveis no seu papado? Na minha baixeza, penso que há. Mas, fosse quem fosse, agisse como agisse, sempre haveriam de criticá-lo em qualquer coisa. É que alguns católicos de hoje esqueceram que dois grandes pontos, importantíssimos, e que permeiam toda a tradição, são a humildade e a obediência. Antes de agirmos como algozes do Papa, deveríamos rezar por ele, e pedir incessantemente a Deus que o conduza nas suas decisões e nos seus pronunciamentos. Jesus não abandonou a Sua Igreja; portanto, a escolha de Bento XVI para o Papado não é fruto do acaso. Tenhamos cuidado com isso; não sejamos temerários. Poderemos criticá-lo quando for justo fazê-lo, mas não cultivemos uma inclinação a priori para isso. Nós somos muito pequenos...
Rezemos para que Nosso Senhor dê grande sabedoria e coragem ao seu vigário na terra.
Fábio
perdão usar este espaço, mas fábio atende seu cel é urgente!
ResponderExcluirMaria
Caro Fábio,
ResponderExcluirUma coisa é ser educado e não entrar em polêmicas desnecessárias. Outra coisa bem distinta é dizer que Lutero era um exemplo de cristocentrismo, isso é iguala-lo aos nossos santos, que ai sim foram exemplos de cristocentrismo.
Concordo que não era necessário xingar Lutero frente aos protestantes, mas também não era necessário elogiá-lo tanto.
Sim, concordo contigo.
ResponderExcluirAgora, note bem a diferença desta atitude de uma crítica pontual e 'depois' de um certo acontecimento protagonizado pelo Papa, daquela outra atitude que critica a pessoa do Papa como um todo, que retoma antigos textos com o intuito de lançar dúvidas sobre o seu caráter ou aquela disposição a priori de criticá-lo no que quer que faça.
Eu não tenho dúvidas de que certos deslizes do papa são esperados ansiosamente para que isso possa alimentar o protagonismo disso que eu chamei de "magistério alternativo virtual".
Outra coisa. Eu respeito muito a pessoa de Dom Lefebvre. De fato, é inspiradora a sua coragem. Porém, daí a supor que os seus "espirros" gozem de infalibilidade papal a ponto de usar qualquer frase dele contra o Papa como se fosse o testemunho inequívoco do juízo divino, eu penso que é um negócio meio sem noção.
O Papa pode, sim, ser criticado, desde com respeito e com bom senso. É como dizia S. Josemaria Escrivá:
"A Santa Intransigência não é destempero".
Abraço.