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1º dia do Semi-Retiro GRAA - O silêncio I

S. Rafael Arnaiz Barón

Hoje, dia 06/03/2010, Domingo do Senhor, iniciamos o semi-retiro do GRAA. Depois de tantas dificuldades e de sucessivas decepções, torna-se vislumbrável o motivo de tudo isto. Nosso Senhor, nestes dias, é deixado só. Que modo melhor de viver o amor a Ele do que fazer-Lhe companhia? Refletíamos um pouco sobre isto: no carnaval, a angústia do Senhor é como que estendida e, de novo, ele precisa de amigos por perto: "vigiai comigo, pois minha alma está triste até a morte".

Desde a manhã, lá fomos nós, meio de que improviso, a um retiro numa chácara aqui perto a fim de assistirmos a Santa Missa, pois, infelizmente, não dispúnhamos de outra oportunidade. Já à tarde, de volta, fomos a uma capela, onde há a Presença Real de Nosso Senhor e aí O adoramos e refletimos um pouco sobre a temática do silêncio.

Ponho, pois, abaixo, alguns pontos da nossa formação.

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O silêncio é, sem exceção, elogiado por todos os mestres da vida espiritual. S. Bento o chama de "mestre dos mestres". Todos os amigos de Deus foram amigos também do silêncio. A própria Santíssima Virgem é admirada por seu silêncio perfeito. E o próprio Cristo, nosso modelo, distinguiu-se pelos seus retiros e pelo silêncio heróico que praticou na Sua Paixão.

Dizia um santo que o cristão que vive agitado e curioso esqueceu-se de si mesmo. Uma outra santa dizia, por sua vez, que os amigos do silêncio não podem não sentir prazer nas coisas divinas, pelo que a tibieza, a falta de interesse nos assuntos da religião é indício de pouco recolhimento. Para muitos, o grande critério para observar se alguém é verdadeiramente espiritual é saber se ele aprecia o silêncio. É óbvio que o grau de recolhimento é também determinado pela vocação. Por isto, os religiosos e os monges estão obrigados a um silêncio mais estrito.  No entanto, qualquer que seja o cristão e sua vocação, ele deverá fazer do silêncio uma prática recorrente.

Mas em que exatamente consiste o silêncio? Já tivemos ocasião de escrever um artigo sobre o assunto. 

O silêncio é, à primeira vista, identificado com o simples calar vocal, com a quietação da língua. rs... No entanto, para a finalidade da religião, que é a união com Deus, tal não é suficiente; é só um início. Porém, é um primeiro passo necessário. Mas há pessoas que sequer observam este ponto. Julgam que rezar significa falar constantemente e nunca parar. Já topei com pessoas assim, para quem a oração silenciosa é qualquer coisa de estranho. Faziam de tudo para não calar; apelavam até para sons ininteligíveis, mas a prática do silêncio era escassa... Estritamente falando, nem havia.

O silêncio é muito necessário para a vida espiritual. Nosso Senhor diz, no livro de Oséias, que levará a alma à solidão a fim de falar-lhe intimamente. Uma outra santa da Igreja vai afirmar que a alma se coloca em solidão quando silencia. É, então, que ela se dispõe para o diálogo divino. Um outro aspecto, porém, do silêncio - e ainda estamos tratando do seu aspecto mais externo - é a disciplina de manter-se fisicamente parado. É cômico ver como parece haver um festival de pulgas em certos indivíduos quando se põem a rezar. Não param um minuto de se coçar, ou então, ficam acompanhando com movimentos ritmicos das pernas alguma música inexistente..rs Simplesmente não sabem ficar quietos. Certa vez, eu estava fazendo adoração, e o sujeito do meu lado, além de não parar de se remexer na cadeira, ficava a fechar e abrir repetidamente o ziper da sua Bíblia.. rs... E tudo isto, embora soe cômico, é capaz de fazer um cristão estacionar na oração a vida toda até, quando tudo o que deveria fazer para adiantar era disciplinar-se. Mas, segundo dizem, essas são só sutilezas sem muita importância.. rsrsrs...

O ambiente em que se está, não obstante não seja mesmo determinante para o estabelecimento do silêncio interior - que é o que verdadeiramente importa - pode muito contribuir para ele. Sobretudo, para os que não têm experiência no recolhimento, a fim de adquirem este hábito, seria muito conveniente providenciar para que o local fosse minimamente proporcionado à pacificação da alma que, então, se busca. É possível silenciar o interior mesmo num ambiente barulhento, mas isto já exige uma maior experiência.

Estamos até agora falando de aspectos exteriores, mas, segundo dissemos, o foco deve ser o interior. No caso do comportamento em oração, embora o mexer dos pés ou o coçar-se sejam atos externos que, com uma modesta disciplina, podem-se abandonar, eles já são expressão de uma alma inquieta. Antes, porém, de entrar propriamente no silêncio interior, tratemos de mais um aspecto que, não obstante seja exterior, representa como que uma intersecção entre a interioridade e a exterioridade: a disciplina dos olhos. O mover ou o fechar dos olhos é algo externo. No entanto, como disse Nosso Senhor, os olhos são a janela da alma. Diz Aristóteles que, dentre os sentidos, são eles que mais nos oferecem informações e, naturalmente, mais distrações. Se, para a oração, convém recolher-se para voltar-se a Deus, é óbvio que a quietude dos olhos desempenha condição importante. E aí, eu lembro daqueles sujeitos que, enquanto ficam balbuciando algo que nem sabem direito o que que é, vão explorando com o olhar todo o ambiente e observando tudo o que acontece, decorando o vôo dos mosquitos e se admirando de objetos que estão ali há anos e que, misteriosamente, em momentos alternativos à oração, não despertam qualquer interesse. Quando não é isto, ficam com os olhos perdidos no nada, o que denuncia o profundo fervor destes indivíduos. Definitivamente, não sabem rezar e da vida espiritual andam longe, longe...

É importante, portanto - e isto pode ser entendido como "silêncio dos olhos" -, manter os nossos amiguinhos fechados ou, se diante do Santíssimo Sacramento, por exemplo, conservá-los fitos nEle, resistindo às distrações. Estas coisas 'sutis' fazem uma grande diferença, seja porque permitem que a alma se disponha no que está fazendo, seja porque Nosso Senhor muito se agrada dessas delicadezas.

Logo mais, continuo...
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