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Ainda sobre o Carnaval - Isso dá o que falar


Como era de se esperar, vários sítios católicos se pronunciaram a respeito destes tempos de carnaval. Também nós, do GRAA, dispusemos um texto anterior a este que aqui vai. Dos outros poucos que li, notei que era recorrente uma preocupação em advertir com relação à atitude puritana, que tende a considerar qualquer tipo de divertimento como mau em si. É como dissemos anteriormente, citando o C.S. Lewis, de que o prazer é, na verdade, invenção divina. Desfazer nos cristãos os riscos do puritanismo é sempre bom, pois, não obstante sua aparência rigorosa, tal atitude é muito avessa ao autêntico catolicismo. Uma seriedade caricaturada e meramente exterior só frustra.

No entanto, não creio dever ser esse o foco. O outro excesso foi apenas pincelado, quando, na verdade, o Carnaval, no modo como acontece hoje, salvo algumas poucas exceções, é profundamente danoso para as almas. E não façamos abstração das inúmeras advertências dos santos com relação ao que acontece nestes dias. Sta Faustina, conforme citamos no outro texto, se admirava de que Deus permitia que a humanidade continuasse existindo. E isto, reconheçamo-lo, é muito sério. Não importam as nossas simpatias pessoais quando, na verdade, Nosso Senhor está sendo objetivamente ofendido! Tenhamos cuidado para que, sob o pretexto de fuga do puritanismo, não estejamos aderindo a uma falsa prudência.

É claro que o divertimento não é um mal em si. Aproveitar a festa entre amigos ou entre a família não tem nada demais. Quando me refiro ao carnaval, estou falando daquilo que acontece nas ruas, entre os foliões e suas cacofonias e vulgaridades. Embora o prazer, em si, seja bom, quando ele é buscado por meios ilícitos, o resultado é péssimo. É também neste sentido que Nosso Senhor diz: "ai de vós que rides..."; e que os exilados de Sião, convidados a cantar e se alegrar em terra estranha, respondiam: "que se prenda a minha língua ao céu da boca se de ti, Jerusalém, eu me esquecer, e se não a puser acima das minhas alegrias".

Alguns parecem supor que o cristão, estando nestes meios, será totalmente livre para escolher se irá se contaminar ou não. rs... Mas acontece que, estritamente falando, há em nós aquela tendência ao egoísmo em suas variadas formas, e que nos dificulta esta suposta neutralidade. É por isso que Jesus nos recomenda "fugir do pecado como se foge de uma serpente". Chamo a atenção para o termo: é preciso fugir! Lembremos ainda aquela outra afirmação de Cristo: "Os olhos são a janela da alma". Se pelos nossos olhos entram indecências, então a nossa alma se contaminará.

E agora, eu fico pensando nos muitos cristãos que, para manter a pureza, guardavam os olhos até mesmo daquilo cuja vista não representa nenhum pecado. Seriam eles puritanos? Claro que não. Não é que eles considerassem o deleite em si como um mal, mas entendiam a tendência humana de converter os meios prazerosos em fins e, por isto, usavam de bastante rigor. Isto nada tem a ver com pessimismo nem contradiz em nada o senso lúdico.

O que pretendo dizer é que expor-se ao carnaval, pelo menos como se apresenta na maior parte do país, é de uma inconveniência infame, pois somos fracos e se não lutamos, caímos. Diz o Apóstolo que o demônio anda como leão que ruge procurando a quem devorar. Os tempos do carnaval, embora ainda não tenham, é verdade, o rigor dos dias da quaresma, são, no entanto, uma singular oportunidade de investida do inimigo de Deus, pelo que o nosso cuidado, deve, sim, ser redobrado. E isto é algo tão real quanto os postes da rua. Muita gente tende a ver estas proposições espirituais como se fossem subjetividades ou abstrações genéricas, e não são; são fatos!

A alegria, claro, deve ser cultivada. Ela culminará em Deus, que nos quer felizes. Mas Ele também nos quer vigilantes, para que não percamos a razão da nossa alegria. Se temos Deus na nossa alma, devemos ter medo de perdê-Lo. É o que dizia S. Pe. Pio, admitindo claramente que tinha medo de ofender a Deus. E isto se tratanto de um santo daquele calibre! Considero uma ingenuidade terrível que saiamos às ruas nestes tempos, fiando-nos na nossa força e sem o menor medo de perder a graça. Se nos expomos voluntariamente ao perigo do pecado, e se conhecemos algo da nossa miséria, é de supor que cairemos mui facilmente.

Portanto, e já vou concluindo, embora a festa não seja má em si, o modo como acontece em sua maior parte é terrível, seja pela ofensa objetiva que faz a Jesus Cristo, seja pelo mal que causa às almas. Daí que, mais do que esclarecer os incautos dos perigos de uma posição puritana, creio que deveríamos esclarecê-los do perigo de uma atitude ingênua, em que nos fazemos de cegos para ostentar uma estranha prudência.

O gozo legítimo é complicado de manter lá dentro quando o que se tem é uma constante avalanche de apelações sensuais e quando o que se entra pelos olhos é somente lixo. Enfim, considero muito mais razoável abster-se de tais profanações. Aliás, considero a única posição razoável. Fugir do pecado é o conselho divino. O carnaval como realidade infernal é o consenso dos santos. E eu tô com eles. E não sou puritano nem pessimista. Sou só católico.

Fábio.
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