Estes dias, vimos com pesar a tragédia que aconteceu com o Japão, a Terra do Sol Nascente. O Papa Bento XVI afirmou-se estarrecido e profundamente triste com o acontecido, e assegurou ao povo japonês as suas orações e a sua proximidade.
No entanto, parece haver alguns indivíduos, que se auto-entitulam cristãos, e que não conseguem esconder um certo tipo de satisfação pelo ocorrido. Para justificar esta bizarrice, ficam a apontar o dedo dizendo que esse povo não é católico e que, no fundo, isso foi bom! Pra que eles aprendam e se convertam!
Sinto muito, mas isto é de uma mesquinhez absurda. Claro que a conversão do Japão seria um grande bem. Claro que o fato de apenas 1% desse povo ser católico é um mal. Isto porque sabemos que, objetivamente, o Catolicismo é a Igreja de Nosso Senhor, que é Deus verdadeiro. Mas daí legitimar essa tragédia e agradar-se com o sucedido é outra coisa. E as pessoas que estão em ignorância invencível? E de que modo estes sismos poderão ser uma ponte entre o povo japonês e Deus? Creio que se fôssemos levar as coisas desse modo, o terremoto teria acontecido, por exemplo, no Brasil, onde, mesmo tendo um acesso maior à Verdade de Nosso Senhor, a nossa mediocridade é tamanha! A gravidade do pecado para quem conhece a Deus é maior.
Estes sujeitos devotamente sádicos me lembraram uma passagem do Sementes de Contemplação do Thomas Merton, e que transcrevo abaixo:
"As pessoas que escutam esse gênero de coisas, que as absorvem, que as aceitam de bom grado, cultivam uma noção da vida espiritual que é uma espécie de hipnose do mal. Os conceitos de pecado, sofrimento, danação, castigo, justiça de Deus, recompensa, fim do mundo, e tudo o mais, são coisas que as fazem lamber os beiços com indizível prazer. Talvez seja assim porque lhes causa uma profunda e inconsciente satisfação a idéia de que muitas pessoas cairão no inferno de que eles escaparão. E como sabem que escaparão? Não podem dar qualquer razão definida, exceto o fato de gozarem certa sensação de alívio com a idéia de que todo esse sofrimento está praticamente preparado para toda a gente, mas não para eles. Esse sentimento de gozo é o que classificam como "fé" e constitui, para eles, como que a convicção de estarem "salvos".
Pregando contra o pecado, o demônio arranja muitos discípulos. Convence-os do grande mal que é o pecado, provoca neles uma crise emocional que lhes traz a convicção de serem ignorados por Deus os seus pecados, e, depois, deixa-os passar todo o resto da vida meditando na imensa perversidade e evidente reprovação dos outros homens".
Thomas Merton, Sementes de Contemplação, A Teologia Moral do Demônio, pp.87-88.
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E para os que realmente estão convencidos de que Nosso Senhor é desse modo, vai abaixo um texto do próprio Evangelho:
"Aproximando-se o tempo em que Jesus devia ser arrebatado deste mundo, ele resolveu dirigir-se a Jerusalém. Enviou diante de si mensageiros que, tendo partido, entraram em uma povoação dos samaritanos para lhe arranjar pousada. Mas não o receberam, por ele dar mostras de que ia para Jerusalém. Vendo isto, Tiago e João disseram: Senhor, queres que mandemos que desça fogo dos céus e os consuma? Jesus voltou-se e repreendeu-os severamente: Não sabeis de que espírito sois animados" (Lc 9, 51-55)
Pois é.. E os que se rejubilam com o sofrimento dos japoneses, usando ainda o Thomas Merton, podem estar animados de qualquer espírito, menos do Espírito Santo. Não se trata de relativizar a fé ou de cair num naturalismo; é apenas questão de bom senso. Ficar satisfeito pelas pessoas que morreram e pelas dificuldades procedentes do desastre é, reconheçamo-lo, muita maldade. Podem aplicar o livre exame à vontade ao trecho acima; ele é bastante claro. Nosso Senhor não foi um tipo de 'cão raivoso' não. E blasfemam os que O concebem assim! A sua infinita indignação, que é real, não Lhe torna cruel, de modo nenhum! Se Nosso Senhor quisesse 'forçar' a conversão do povo japonês, o faria, de certo, de outro modo.
Espanta-me este tipo de "fé".
Por fim, só me cabe repetir as mesmas palavras do Senhor na Cruz:
"Perdoai-os, eles não sabem o que fazem".
Rezemos pelo Japão.
Fábio.
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