Sta Teresa D'Avila
Depois que vi a grande formosura do Senhor, a ninguém via que, em Sua comparação, me parecesse bem ou me ocupasse a memória. Só com o volver um pouco os olhos da consideração à imagem que tenho na minha alma, fiquei, desde então para cá, com tanta liberdade que, tudo o que vejo, parece que me faz aversão em comparação das excelências e graças que via neste Senhor. Nem há saber nem contentamento algum que eu estime mais em comparação do que ouvir uma só palavra que seja, dita por aquela divina boca, quanto mais ouvindo tantas!
Ó Rei da glória e Senhor de todos os reis! O Vosso reino não é feito de palitos, pois não tem fim! Não são necessários terceiros para chegar até Vós! Basta divisar ao longe a Vossa pessoa para logo se conhecer que só Vós mereceis que Vos chamem Senhor, pela Majestade que mostrais. Não há necessidade de gente de acompanhamento, nem de guarda, para que conheçam que sois Rei. Cá na terra, um Rei mal se conhecerá só por si, porque, embora ele queira ser reconhecido por tal, não o acreditarão; não tem mais do que os outros. É mister que se veja por que o hão-de acreditar, e assim é de razão que tenha estas autoridades postiças, porque, se não as tivesse, tê-lo-iam em nada. É que não lhe vem dele o parecer poderoso: de outrem lhe há-de vir a autoridade.
Ó Senhor meu! Ó meu Rei! Quem soubera representar agora a Majestade que tendes! É impossível deixar de ver que, por Vós mesmo, sois grande Imperador. Espanta ver esta Majestade; mas mais espanta, Senhor meu, o ver com ela a Vossa humildade e o amor que mostrais a uma como eu. Em tudo podemos tratar e falar convosco como quisermos, uma vez perdido o primeiro espanto e temor de ver Vossa Majestade, ficando-nos maior, no entanto, para não Vos ofender; não, porém, por medo do castigo, Senhor meu, porque deste nenhum caso se faz em comparação de não Vos perder a Vós!
Ó formosura, que excedeis
a todas as formosuras!
Sem ferir dor fazeis,
e sem doer desfazeis,
o amor das criaturas.
Ó nó, que assim juntais
duas coisas tão desiguais,
não sei porque vos desatais,
pois atado força dais
a ter por bem os males.
Juntais quem não tem ser
com o Ser que não se acaba;
sem acabar acabais,
sem ter que amar amais,
engrandeceis nosso nada.
a todas as formosuras!
Sem ferir dor fazeis,
e sem doer desfazeis,
o amor das criaturas.
Ó nó, que assim juntais
duas coisas tão desiguais,
não sei porque vos desatais,
pois atado força dais
a ter por bem os males.
Juntais quem não tem ser
com o Ser que não se acaba;
sem acabar acabais,
sem ter que amar amais,
engrandeceis nosso nada.
Fonte: Santa Teresa de Jesus
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